13/03/2023 - 10:32
A última sexta-feira (10) ficou marcada com a quebra do Silicon Valley Bank, maior banco dos EUA a desabar desde a crise de 2008. Fundado em 1983, o banco tinha em posse o valor de US$175 bilhões, e focava nos investimentos em startups de tecnologia. Entre os efeitos do colapso estão o desespero de investidores, ações de outros bancos em queda e movimentos rápidos do Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, que se reúne nesta segunda-feira (13) a portas fechadas para debater soluções.
+ Silicon Valley Bank se torna maior banco americano a quebrar desde crise de 2008
O colapso do Banco do Vale do Silício começou na última quarta-feira (8), quando a companhia anunciou perda de quase US$2 bilhões ao tentar levantar capital para lidar com a fuga de depósitos. O banco se notabilizou pelo foco em startups do Vale do Silício, que enfrentam dificuldades pelo encarecimento do crédito e avanço dos juros.
O que é o SBV e como ele quebrou
O SVB é um banco americano de médio porte mais focado – para não dizer concentrado – no mercado de empréstimo para startups, conforme explica Rafael Zuanazzi, sócio e advogado da Russell Bedford Brasil. O SVB era predominantemente exposto às startups e as startups estão sofrendo pelo alta dos juros e estão com dificuldades de conseguir crédito. Devido a isso, precisaram sacar valores depositados na instituição.
“Como todo o bancos, o SVB não possui dinheiro suficiente caso os clientes decidam sacar valores em massa. Para arcar com o saque, eles precisaram vender os títulos que possuíam e, como precisaram vender, amargaram prejuízo. Com esse movimento, os clientes se assustaram e acabaram por sacar ainda mais recursos, o que fez o banco vender mais títulos”, explica Zuanazzi.
A queda [também] está associada a operações mal conduzidas pelo banco, explica Mauro Rochlin, coordenador do MBA de Gestão Estratégica e Econômica da Fundação Getúlio Vargas. “O banco realizou empréstimos em condições arriscadas, e isso se desdobrou em um número grande de inadimplentes, tornando-o insolvente. É o que acontece com um banco que não consegue honrar seus compromissos”, diz.
Relação com juros altos
Vale lembrar que as taxas altas atrapalharam as operações do banco, na medida em que tornaram mais caras as captações que o banco fazia para honrar os empréstimos. Hoje, a taxa básica de juros dos EUA aparece entre 4,50% e 4,75%.
“A alta da taxa de juros torna a operação bancária mais cara. Os bancos captam dinheiro de um lado e emprestam de outro; muitos dos empréstimos que fizeram aconteceram ainda com taxas mais baixas. Nos últimos meses, as taxas nos EUA aumentaram, tornando as operações mais caras “, acrescenta o coordenador da FGV.
Para Alexandre Espírito Santo, professor de economia do Ibmec RJ, o resultado é efeito de investimentos anteriores, como o boom de serviços digitais nos últimos 3 anos.
“Com a Covid-19, o governo americano e o FED injetaram trilhões de dólares na economia, para reduzir os efeitos recessivos. O mundo todo ficou dependente de serviços remotos, beneficiando setores ligados ao digital. Fazia sentido que houvesse uma grande quantidade de recursos sendo direcionados para esses setores e muitas empresas fizeram investimentos que não apresentavam taxas de retornos adequadas. Com o passar do tempo, e os resultados desses investimentos mostrando-se frustrantes, investidores e acionistas começaram a ficar ressabiados”, explica o professor.
EUA prometem garantia aos clientes
A Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) assumiu o controle da empresa controlada pela SVB Financial Group, criando o Banco Nacional de Seguro de Depósito de Santa Clara (DINB), que permite a depositantes acesso a seus depósitos segurados e tempo para abrir contas em outras instituições seguradas.
“As instituições reguladoras e autoridades americanas dizem que irão honrar os valores depositados no banco. Isso atenuaria as perdas, mas é preciso esperar um tempo”, defende o professor do Ibmec RJ.
“O medo é que clientes (depositantes) que têm dinheiro em bancos pequenos em valores acima de US$250 mil – teto que é garantido pelo fundo de crédito americano – não tenham garantias. Mas o governo americano já afirmou que terá essa garantia, o que é uma forma de evitar uma corrida bancária contra os pequenos bancos”, explica Rochlin.
Risco de recessão volta para a pauta
Desde quinta-feira (9), a Bolsa americana caiu e o setor financeiro lidera as perdas. A maior aversão ao risco por parte de compradores [de ações] fez com que uma baixa acontecesse. Efeitos como a queda de 70% das ações do First Republic Bank, outro banco americano, reforçam a ideia do colapso financeiro.
“A princípio, devem ser afetadas as ações de bancos médios e pequenos (bancos semelhantes ao SVB em porte e função), bem como outas pessoas jurídicas que tinham algum grau de exposição ao banco, ou seja, outro banco que tinha alguma relação direta ao SVB”, acredita o sócio da Russell Bedford Brasil. Ele alerta que também podem ser afetadas empresas de tecnologia que tinham relação com o SVB, sendo empresas que podem ter problemas até para pegar os funcionários.
“[Essa quebra] é um indicativo que precisa ser analisado com cuidado no contexto do risco da recessão, afinal foi a dificuldade das startups que levou ao saque prematuro de recursos”, expõe o advogado.
Há riscos para o Brasil?
O Nubank se apressou em informar neste sábado (11) não ter “qualquer exposição” ao Silicon Valley Bank (SVB), maior instituição financeira dos Estados Unidos a quebrar desde a crise financeira de 2008. “A Nu Holdings Ltd. comunica aos seus acionistas e ao mercado que nem a Companhia nem nenhuma de suas subsidiárias têm qualquer exposição ao Silicon Valley Bank”, declarou a empresa em comunicado divulgado no sábado.
Diretamente o impacto para o Brasil é baixo – considerando como um todo. O banco era procurado por algumas startups brasileiras, que podem ter problema de caixa por perda de valores. “Como não sabemos ainda quais são, ficamos em compasso de espera neste quesito”, afirma Zuanazzi.
Segundo Rochlin, o Nubank e outros bancos brasileiros são afetados, pois se aumenta a aversão ao risco por parte de investidores e compradores de ações e outros produtos bancários. “Além disso, a quebra faz com que se busque ativos reais, fugindo de bancos, o que pode fazer com que outros bancos com modelos parecidos – no caso dos bancos digitais – sejam afetados por esse medo de risco”, prevê o professor da FGV.