O Banco Central decidiu nesta quarta-feira, 8, reduzir o ritmo de afrouxamento monetário ao fazer um corte de 0,25 ponto percentual na taxa Selic, para 10,50% ao ano, com divergência de diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e abandonou sua indicação sobre o futuro dos juros básicos.

De acordo com o comunicado, a decisão foi apoiada pelo presidente Roberto Campos Neto e os diretores Carolina Barros, Diogo Guillen, Otávio Damaso e Renato Gomes. Indicados por Lula, Ailton de Aquino, Gabriel Galípolo, Paulo Picchetti e Rodrigo Teixeira votaram por uma redução maior, de 0,50 ponto percentual.

Apesar da divergência, o comunicado informou que o Comitê, unanimemente, “avalia que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade e expectativas desancoradas demandam maior cautela”.

Divisão eleva incertezas sobre próximos passos

A separação entre posição mais flexível dos membros da diretoria do BC nomeados por Lula e a visão mais dura dos componentes indicados ou reconduzidos durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro pode ampliar incertezas sobre os próximos passos da política monetária, à medida em que novas indicações levem o governo a contar com a maioria de nomeados na diretoria do BC.

Atualmente, a cúpula da autarquia é composta por quatro diretores indicados por Lula, enquanto cinco estão no posto desde a gestão de Bolsonaro. Os próximos mandatos a vencer, em dezembro deste ano, são de Campos Neto, Carolina Barros e Otávio Damaso.

“O tom do comunicado foi duro, mas o destaque da reunião ficou todo para o placar dividido (5×4), o que retira grande parte dessa avaliação e adiciona o ingrediente de uma clara divisão entre os membros indicados pelo atual governo e o anterior”, disse João Savignon, head de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital.

Para o economista-chefe do banco BV, Roberto Padovani, a divisão na diretoria “de certo modo, revela as preferências do próximo Banco Central”.

No comunicado, o BC informou que o corte de 0,25 ponto é compatível com a estratégia de convergência da inflação para ao redor da meta ao longo do horizonte relevante.

Retirada de indicação futura

Ao retirar o “forward guidance”, ou a indicação futura para a política monetária, o BC reforçou “com especial ênfase”, que a extensão e a adequação de ajustes futuros na taxa de juros serão ditadas pelo “firme compromisso de convergência da inflação à meta”.

Após o Copom indicar em março que previa um corte de 0,50 ponto percentual nos juros básicos neste mês caso o cenário esperado se confirmasse, o que já representava um encurtamento em relação às indicações feitas em reuniões anteriores, que vinham apontando para dois cortes equivalentes à frente, declarações públicas do comando do BC embaralharam as previsões do mercado.

Em apresentações feitas em abril, o presidente Campos Neto destacou o aumento de incertezas e mencionou uma eventual redução do ritmo de afrouxamento monetário se o cenário incerto se mantivesse. Depois, em indicação de que o BC teria abandonado até mesmo a orientação para o corte de 0,50 ponto na reunião de maio, ele afirmou que a autarquia não tinha como dar um ‘guidance’ porque havia “incerteza muito grande”.

Após as declarações, parte do mercado passou a precificar um corte de 0,25 ponto percentual na Selic já na reunião do Copom desta semana.

Dos 39 economistas consultados em pesquisa da Reuters na última semana, 22 apostaram na redução de 0,25 ponto, enquanto 17 disseram esperar corte de 0,50 ponto. A mudança de percepção também se refletiu no boletim Focus do BC desta semana, que mostrou projeções embutindo corte de apenas 0,25 ponto no encontro.

O corte de 0,25 ponto veio após seis reduções seguidas de 0,50 ponto, em ciclo de afrouxamento que começou em agosto de 2023, quando a Selic estava em 13,75%. A reunião de agosto do ano passado havia sido a última a ter uma decisão com divergência na diretoria do BC.

No comunicado, o Copom disse que o ambiente externo está mais adverso, em função da incerteza “elevada e persistente” sobre o início da flexibilização monetária nos Estados Unidos e a velocidade da desinflação global. A análise ecoa falas recentes de Campos Neto, que tem citado o risco de perda de liquidez em países emergentes com o possível cenário de juros mais altos por mais tempo nos Estados Unidos.

No cenário doméstico, o BC disse que indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho têm apresentado maior dinamismo que o esperado. Esses fatores têm sido fonte de preocupação da diretoria da autoridade monetária por conta da pressão que pode ser gerada sobre preços.

O BC também voltou a destacar as expectativas de inflação desancoradas e medidas de inflação subjacente (que excluem dados mais voláteis) acima da meta.

Dados recentes de inflação vieram abaixo do esperado, mas as expectativas do mercado para o comportamento dos preços seguem acima da meta de 3% estabelecida para este e os próximos dois anos.

Nesta quarta, BC piorou suas próprias projeções para o comportamento dos preços em relação à reunião anterior. A autoridade monetária informou que, em seu cenário de referência, a estimativa para a inflação foi de 3,5% para 3,8% em 2024 e de 3,2% para 3,3% em 2025.

Fiscal

Após o governo flexibilizar metas para as contas públicas, o BC afirmou ainda que “acompanhou com atenção” os desenvolvimentos recentes da política fiscal e seus impactos sobre a política monetária.

“O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, afirmou.