Com as taxas do Tesouro Direto disparando em meio às preocupações fiscais do mercado, a pergunta que muitos investidores se fazem é se vale a pena resgatar os títulos que você já tem em mãos para reinvestir em papeis com juros mais altos.

Em meio à preocupação com a situação fiscal do Brasil, vemos papeis entregando rendimentos poucas vezes vistos, como o Tesouro prefixado com vencimento em 2027, que hoje paga mais de 13%, ou o IPCA+ 2029, com rendimento acima de 7% além da variação de preços. Mas será que essa troca é um bom negócio?

+ Tesouro Direto atinge 2,7 milhões de investidores; veja títulos mais buscados

Na maior parte das vezes, não. Isso porque essa é uma conta bastante complexa, já que os títulos estão sujeitos à chamada marcação a mercado. Isso quer dizer que, quanto maior a taxa, menor o valor que será calculado para o título, e vice-versa.

Ou seja, na hora da venda, o investidor terá que bancar um deságio que pode “comer” toda a eventual rentabilidade futura do título que será adquirido com aquele recurso.

Qual o risco de resgatar para reinvestir?

Esse risco é relacionado com algo que é chamado de marcação a mercado, que é a avaliação em tempo real dos investidores de quanto um ativo comprado lá atrás valeria hoje, se fosse vendido neste momento, com as condições atuais de preço.

É uma espécie de atualização, em que são considerados pontos como qual a taxa de juros atual, os juros futuros e a oferta e demanda por aquele ativo hoje.

Para entender como isso funciona, vamos pensar num exemplo: um investidor adquire um título público que vale R$ 10.000 a uma taxa prefixada de 10% ao ano e vencimento em 10 anos.

Se essa taxa sobe para 15%, o valor de face do título sofrerá um deságio automático na hora que o investidor tentar vender seu título que paga uma taxa de 10% (afinal de contas, o mercado tem à disposição um papel que está pagando bem mais, 15%).

O mesmo raciocínio vale para o movimento inverso. Se a taxa de juros cair a 5%, o valor de face do papel do investidor, que paga uma taxa de 10%, automaticamente subirá (já que o mercado só tem a disposição naquele momento um papel que está pagando bem menor, 5%).

Esse mecanismo acaba eliminando muito da vantagem do investidor, até porque, ele pagará imposto sobre o rendimento ao vender – lembrando que, quanto maior o tempo da aplicação, menor o IR a ser pago.

Por outro lado, se mantiver o título prefixado ou atrelado à inflação até o vencimento, terá o rendimento acordado quando adquiriu o papel, sem ter que arcar com nenhum prejuízo.

“Na maioria dos casos, não compensa, porque o prejuízo que a gente tem ao vender é muito grande”, aponta Larissa Frias, planejadora financeira do C6 Bank. “Além disso, é preciso considerar o Imposto de Renda do resgate e também os impactos da reaplicação de recursos, sujeita aos efeitos da tabela regressiva do Imposto de Renda”, completa.

E resgatar Tesouro Direto antes para outros fins, vale a pena?

Tudo depende do seu momento de vida, dizem especialistas. Se você considera que já alcançou o valor necessário para alcançar seu objetivo, como uma viagem ou a compra de um bem, pode resgatar o valor.

Se essa meta ainda não foi atingida, o mais aconselhado é manter o título até o vencimento, e garantir a rentabilidade contratada.

Diversificação é importante

Frias lembra que o investidor também deve ter em mente que o Brasil passa por ciclos econômicos todo o tempo. Por isso, diz a especialista, é tão importante diversificar investimentos.

“Uma recomendação que qualquer profissional do ramo faz é a tal da diversificação. O investidor está vendo as taxas de juros muito altas agora, e sem dúvida vale entrar no patamar atual. Mas com bastante parcimônia, avaliando bem o risco de cada investimento, porque lá na frente podemos encontrar outro patamar que fará com que consideremos esse de hoje baixo”, diz Frias.

O ideal, diz ela, é não se expor excessivamente a nenhum tipo de risco, seja por prazo, seja por tipo de rentabilidade. “A gente costuma sempre refletir sobre a necessidade de uma parcela de liquidez dentro do portfólio, para equilibrar o risco da carteira total”, recomenda.

Leia a reportagem completa no B3 Bora Investir, parceiro do site IstoÉ Dinheiro.