20/03/2018 - 20:26
Um estudo realizado por cientistas americanos revelou que a betanina – o composto que dá à beterraba sua cor característica, ajuda a reduzir o acúmulo de proteínas “mal dobradas” no cérebro – um processo que é associado à doença de Alzhemier. Segundo os autores, a descoberta poderá levar ao desenvolvimento de drogas que podem aliviar os efeitos de longo prazo da doença.
Os resultados do estudo, que foi realizado por pesquisadores da Universidade do Sul da Flórida (Estados Unidos) foi apresentado nesta terça-feira, 20, no encontro nacional da Sociedade Americana de Química.
“Nossos dados sugerem que a betanina, um composto presente no extrato de beterraba, pode ser promissor como inibidor de certas reações químicas no cérebro que estão envolvidas com a progressão da doença de Alzheimer”, disse o autor principal do estudo, Li-June Ming.
“É apenas um primeiro passo, mas esperamos que nossa descoberta estimule outros cientistas a buscar por estruturas semelhantes à betanina que podem ser utilizadas para sintetizar drogas que podem tornar um pouco mais fácil a vida daqueles que sofrem dessa doença”, declarou Ming.
A ciência ainda está tentando descobrir o que causa a doença de Alzheimer – um tipo de demência progressiva e irreversível -, mas uma das principais hipóteses é que o desenvolvimento da doença tenha relação com o peptídeo beta-amiloide, um fragmento de proteína que se acumula no cérebro, rompendo a comunicação entre as células cerebrais, chamadas de neurônios.
A maior parte desse dano, segundo Ming, ocorre quando a proteína beta-amiloide se liga a metais como ferro ou cobre. Esses metais podem levar os peptídeos beta-amiloides a se “dobrarem” de forma errada, fazendo com que eles se acumulem em aglomerados que podem promover inflamação ou oxidação – um processo semelhante ao que produz ferrugem – em neurônios adjacentes, levando-os à morte.
Estudos anteriores conduzidos por outros grupos de cientistas já sugeriam que o suco de beterraba pode melhorar o fluxo de oxigênio no cérebro que está envelhecendo, promovendo uma provável melhora do desempenho cognitivo.
Ao realizar o novo estudo, os cientistas liderados por Ming queriam descobrir se a betanina – um composto da beterraba utilizado comericalmente como corente e que tem a propriedade de se ligar a metais – seria capaz de bloquear os efeitos do cobre nas proteínas beta-amiloides, impedindo que elas se dobrem de forma anômala e, assim, evitando a oxidação dos neurônios.
Em estudos feitos em laboratório, os cientistas conduziram uma série de experimentos envolvendo o DTBC, um composto utilizado como substância modelo para estudar a química da oxidação. Utilizando espectrofotometria visível, os cientistas mediram a reação oxidativa do DTBC quando exposto apenas à beta-amiloide, à beta-amiloide ligada ao cobre e a uma mistura de beta-amiloide com cobre e betanina.
Sozinha, a beta-amiloide causou pouca ou nenhuma oxidação do DTBC. No entanto, como esperado, a beta-amiloide ligada ao cobre induziu a uma considerável oxidação do DTBC. Mas quando a betanina foi adicionada à mistura, os cientistas descobriram uma queda de 90% na oxidação , indicando que anomalia na estrutura do peptídeo havia sido suprimida.
“Não podemos dizer que a betanina detêm completamente o problema dos peptídeos que se dobram de forma anômala, mas podemos dizer que ela reduz a oxidação. Menos oxidação pode evitar que os peptídeos se dobrem erradamente até certo ponto – talvez até o ponto de retardar o acúmulo de peptídeos beta-amiloides, que acreditamos ser a principal causa do Alzheimer”, disse Ming.