19/10/2017 - 12:15
A baixa produtividade da indústria brasileira é, na avaliação de José Velloso Dias Cardoso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), a maior barreira para o crescimento sustentável da economia brasileira. Segundo ele, a ausência de políticas de estímulo ao investimento poderá condenar a recuperação da economia a um “voo de galinha”. Acompanhe, a seguir, sua entrevista à coluna:
Por que a produtividade brasileira é menor do que a grande maioria dos países industrializados ou em desenvolvimento?
A afirmação de que o trabalhador brasileiro é menos produtivo do que a média mundial está distorcida. O problema não está apenas na questão da qualificação ou jornada dos brasileiros. A questão envolve a baixíssima taxa de investimento da indústria. Os estudos mais recentes mostram que o americano é quatro vezes mais produtivo do que o brasileiro. Mas essa constatação não leva em conta que a indústria dos Estados Unidos investe em sua produção US$ 300, em média, para cada trabalhador, por ano. No Brasil, esse investimento é de US$ 60. Ou seja, o americano é mais produtivo porque tem maquinário e tecnologias mais avançadas para aumentar sua produtividade.
Por que o investimento é tão baixo no Brasil?
Por diversos fatores. Um deles é a Selic alta. No histórico dos últimos governos, com a taxa de juros entre 15% e 20%, ninguém investe. Se deixar o dinheiro parado no banco o retorno é alto e garantido. Em vez de investir, é melhor comprar títulos do Tesouro. Então, para estimular o investimento é preciso rever os critérios de definição da Selic.
Mas a Selic está caindo…
Está porque a inflação despencou. Os juros reais, a diferença entre a inflação e a Selic, continua como a mais alta do mundo. Isso desencoraja investimentos e condena o País a ter um atraso tecnológico inalcançável com os outros países. Neste ano, devemos ter uma taxa de investimento de apenas 15% do PIB. A média mundial está acima de 25%. O não investimento de hoje é o não crescimento de amanhã. Corremos o risco de ter, mais uma vez, um voo de galinha.