Os empresários perderam a confiança numa recuperação rápida da economia, ainda em 2016. Temem a longa recessão e a paralisia dos investimentos. É o que aponta uma pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), que sente a retração já forte na ponta do varejo. 54% dos comerciantes ouvidos no levantamento dão o ano como perdido, sem luz no fim do túnel. Quase metade deles (38%) também teme o risco de não conseguir pagar as dívidas. Outros 37% estão assustados com a possibilidade de serem forçados a fechar suas empresas.

A percepção é a mesma na indústria. Contaminados pelos péssimos resultados de 2015, muitos fabricantes simplesmente engavetaram projetos de expansão e encerraram linhas de produção. Com dois anos consecutivos de recuo nas vendas, diversos setores estão à míngua. Caso da indústria automobilística e das siderúrgicas. O mesmo se aplica a construção civil e têxtil. Dos 26 grandes ramos de atividade avaliados pelo IBGE, 25 deles estão em regressão acelerada. Se salva apenas o segmento do agronegócio. A queda no consumo das famílias – abaladas com o fantasma do desemprego e o aumento dos preços – contribui para esse estado de ânimo dos empreendedores.

Não é simples, nem rápido, mudar a rota desse processo. A mera possibilidade de os juros voltarem a subir nos próximos dias assusta ainda mais quem acalenta um fiapo de esperança de reviravolta do mercado. Remédio dos mais amargos para conter a inflação, seu efeito benéfico no momento é, no mínimo, duvidoso. O economista Luiz Carlos Mendonça de Barros diz que o governo “pode matar todo mundo de fome, que a inflação não vem pro centro”. O instrumento dos juros, nesse contexto, seria inócuo.

O Banco Central, responsável pela política monetária, disse em seu último relatório que a culpa do quadro inflacionário é do governo. Apontou com todas as letras que não cumpriu a meta de 4,5% no ano por conta das mudanças fiscais adotadas nos últimos tempos. Os empresários não querem ficar assistindo a esse triste espetáculo de empurra-empurra dos culpados. Exigem e necessitam respostas rápidas, eficientes. Pedem um plano realista e bem estruturado para a retirada da economia do buraco. É no que o Governo deveria se ater.

(Nota publicada na Edição 950 da Revista Dinheiro)