27/06/2016 - 0:00
Sempre que ouvimos alguma história de superação sobre pessoas humildes que, contrariando todas as estatísticas, conseguiram realizar seus sonhos e atingir seus objetivos de alguma forma, vemos que perseverança e objetividade estão entre as características mais comuns desses vitoriosos.
O Brasil do século 21, com mais oportunidades de estudo, tem revelado pessoas como dona Leonides Victorino que até 67 anos não sabia ler nem escrever e, aos 79 anos, se formou em História da Arte em uma universidade no Rio de Janeiro. Ou Joaquim dos Santos que realizou o sonho de se graduar em Direito, aos 63 anos, após pedalar cerca de 40 quilômetros diariamente de sua casa até a faculdade no Espírito Santo.
Os dois tem uma coisa em comum, além das já citadas acima: a cor da pele. Vivemos em um país onde 53% da população se autodeclara negra. No entanto, foi somente neste século que algumas políticas públicas – como FIES, ProUni e cotas nas universidades públicas -, impulsionaram jovens a cursar o terceiro grau ou aqueles que jamais poderiam sonhar com uma universidade. Esta nova realidade acabou por gerar um incentivo para seus pais, e até avós, que hoje também reencontram o sonho do banco universitário.
Só para se ter uma ideia da revolução em curso, nosso país, na virada do século, contava apenas com 2% dos bancos das universidades ocupados por negros. Esse número ultrapassa hoje os 20% – o que significa dizer que os últimos 16 anos concentraram o maior número de ingresso de negros nas universidades comparado a toda história da educação em nossos pais.
Ainda é cedo para saber qual será o impacto dessa verdadeira revolução e em que patamar a inclusão educacional irá nos colocar. Por fim, há dúvidas de como o mercado de trabalho está se preparando para absorver esse novo profissional, que por conta de todas as adversidades, tem entrado mais tarde e por vezes em situação de desvantagens na disputa por uma oportunidade de trabalho.
Cabe às corporações estarem mais atentas a essa mudança em curso do perfil do trabalhador e também do consumidor – uma vez que esse mesmo fenômeno no mercado de trabalho tem reflexo imediato no mundo do consumo. Soma-se a isso, o aumento da população idosa e negra que passa a consumir mais bens e serviços – já em outro nível de educacional, mais elevado do que o de gerações anteriores.
Uma coisa é certa: somente quem estiver antenado com essas novas demandas e desafios propostas para o século 21 sobreviverá, pois o cenário atual é de intensa mudança e transição. A lição que fica é que a interlocução com um país e um planeta mais diverso é a chave para a permanência e o sucesso nos negócios.