Château de Haute Serre 2009 e Château de Haute Serre Icône Wow 2009. Os dois vinhos da foto ao lado formam as estrelas de uma degustação conduzida pelo italiano Vincenzo Protti, na sede da importadora Mistral, nesta sexta-feira (26). Os dois são tintos da vinícola Georges Vigouroux, elaborados com a uva malbec, em Cahors, cidade francesa relativamente próxima a Bordeaux e considerada o berço dessa cepa, que tanto sucesso faz na nossa vizinha Argentina. Protti é o representante da Georges Vigouroux no Brasil.

O primeiro tinto, elaborado também com 15% de merlot, tem um estilo, digamos, mais rústico. Nos aromas, traz notas de evolução, um couro bem presente, notas de madeira e pouca fruta. Seus taninos são mais nervosos, daqueles que ficam meio rugosos na língua. É um belo vinho, que pede comida pela sua boa acidez. Custa US$ 55,90.

O segundo tinto é quase o oposto e elaborado 100% com a malbec. Seus aromas são mais frutados, com um floral final bem interessante. No paladar, é encorpado como o primeiro, mas tem os taninos bem sedosos, macios, e é muito longevo – não é à toa que a vinícola o batizou de Wow. É mais extraído, por certo, mas tem muita complexidade. Custa quase inaceitáveis US$ 299,50.

Uma das diferenças entre os dois é que o segundo já conta com a consultoria de Paul Hobbs. Ele é o enólogo norte-americano que ganhou fama ao trabalhar com a malbec, no início da modernização da vinícola de Nicolás Catena. Hoje, Hobb é não apenas consultor da vinícola francesa, mas também elabora três malbec em parceria com a família Vigouroux.

Seria o primeiro a expressão do terroir de Cahors e o segundo, um tinto no estilo internacional? Na taça, pode-se chegar a essa conclusão. Ou o primeiro é um exemplo de um tinto elaborado ainda com menor conhecimento de como cuidar de uma uva no vinhedo – a poda e a colheita estão cheia de segredos. E também com menor conhecimento de como vinificar e amadurecer a malbec. Essa é também uma conclusão possível.

Não consigo, hoje, responder essa questão. De um lado, se a ideia é mesmo valorizar o terroir, o tinto deveria ser vinificado com leveduras indígenas, aquelas que estão no vinhedo, o que não acontece. Os dois tintos são vinificados com leveduras selecionadas. Em passagem pelo Brasil em julho, Paul Hobbs comentou que tinha muito o que mudar nos vinhedos de Cahors, desde a sua condução até a poda. Mas é preciso mudar sem perder a história.

Só sei que vale a pena acompanhar as safras futuras desses dois tintos. Cahors, apesar de uma região vitivinícola tradicional, está mudando muito nas últimas safras e surpresas podem vir por aí.