08/03/2023 - 17:33
Com a guerra na Ucrânia e as perdas na safra de trigo da Argentina muitos produtores brasileiros viram na possível falta do grão uma oportunidade para expandir o plantio do cereal. O Brasil encerrou o ano de 2022 com a maior safra de trigo da história: 9,5 milhões de toneladas, 24% a mais do que no ano anterior. O volume atende a quase 70% da demanda interna, estimada entre 12 e 14 milhões de toneladas.
Para 2023, o melhoramento genético e mais precisão no plantio já levaram a Câmara Setorial do Trigo de São Paulo a estimar que o Estado irá manter o volume recorde de 500 mil toneladas produzidas em 2022. Os dados acabam de ser contabilizados, após envio dos números reportados pelas cooperativas e cerealistas de São Paulo.
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A entidade acredita que os desafios no cenário, tanto nacional como mundial, permanecem. Mas mostrou que o melhoramento genético do grão foi estratégico para que os produtores do estado atingissem os bons resultados de produtividade e qualidade, conforme mensuração da safra feita em conjunto com a Companhia Nacional do Abastecimento (Conab) e o Instituto de Economia Agrícola (IEA). “A questão climática ainda é uma incógnita para o nosso estado esse ano e pode fazer com que esse número varie”, alerta o Presidente da Câmara Setorial, Ruy Zanardi.
No Brasil, o volume cresceu com boa qualidade, o que permitiu a chegada dessa commodity para novos mercados. No entanto, a demanda ainda foi preciso importar, inclusive da Rússia. Pela primeira vez na história, ultrapassou o cereal vindo dos Estados Unidos, em função dos baixos preços do grão russo, o chefe da área de trigo da companhia europeia Sodrugestvo, Douglas Araújo.
Conforme dados da Embrapa Trigo, desde 2015, a produção de trigo no Brasil vem crescendo cerca de 10% no País ao ano. Se esse ritmo se mantiver até 2030, a colheita chegará a 20 milhões de toneladas. Diante disso, se o consumidor se mantiver estável, o Brasil poderá exportar o excedente, deixando o posto de importador para se tornar exportadores, de acordo com relatório.
Mercado global
A demanda por alimentos no mundo continua crescente e a guerra na Ucrânia, grande produtor do cereal, colocou maior pressão sobre os produtores mundialmente. Volumes recordes de safra registrados no Brasil e na Rússia, além da colheita na Austrália, que superou as expectativas do país, permitiram que a produção mundial atingisse a marca de 784 milhões de toneladas de trigo em 2022, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
O executivo da Sodrugestvo cita alguns fatores que devem influenciar o cenário mundial em 2023. “Na Ucrânia, aproximadamente um terço da área de produção está ocupada pela Rússia, o que nos leva a presumir que a produção seja afetada”. Por outro lado, a Rússia teve um ano excelente para suas safras de forma geral. Porém, as exportações de trigo começaram de forma mais tímida, com números inferiores a 2021/22. O país precisa acelerar suas vendas externas para atingir o resultado esperado de 43 milhões de toneladas em 2023. “Por esse atraso, os preços, principalmente do trigo russo, estão em queda”, disse Araújo.
Já a Argentina, que teve uma intensa quebra de safra em 2022, espera uma retomada da normalidade no que diz respeito ao cultivo em 2023, segundo ele. “Porém, o mercado para o trigo argentino teve alterações em função dessa redução, ficando mais restrito ao Brasil, ao Chile e à Indonésia”.
Mapeamento de safra
Rubia Padilha, profissional da Conab presente na reunião, reforçou a importância do trabalho em conjunto com institutos e produtores para uma mensuração mais precisa do volume de safra de trigo em São Paulo. “As informações e perspectivas de safra são utilizadas para o estabelecimento de políticas agrícolas, envolvendo o Plano Safra, créditos e seguros, por exemplo. Por isso, a precisão desses dados é fundamental para o setor”.
De acordo com o representante do IEA, Danton Camargo, o acompanhamento municipal também é importante para o levantamento da safra paulista. “São poucos os estados do Brasil que possuem a estrutura que São Paulo tem. Cabe aproveitar todas as ferramentas disponíveis, como a Câmara Setorial, para fazer um levantamento cada vez mais preciso do volume de produção”, encerra.