Na quinta-feira, 24 de novembro, o Brasil acordou preocupado com a notícia de que, na calada da noite, a portas fechadas, os líderes dos partidos na Câmara dos Deputados teriam definido uma proposta que seria apresentada para votação em plenário. Seria um adendo ao projeto de medidas anticorrupção que anistiaria os políticos que tivessem usado o caixa 2 antes da aprovação do projeto e que também incluía a previsão de punição a magistrados e integrantes do Ministério Público. Ele seria aprovado rapidamente e depois seguiria para o Senado. Diante do calor provocado pela ação do Congresso frente a opinião pública, a medida foi adiada. Porém, não morreu. O senador Cristovam Buarque (PPS) falou à coluna sobre a ação. Confira:

Como o senhor enxerga essa ação do Congresso de anistiar o caixa 2?
É muito simples para mim. Hoje, todos nós, que fizemos políticas nos outros anos, somos suspeitos no caixa 2. Votar anistiando passa a impressão de que estamos votando em benefício próprio. Então, não faz sentido votar por essa anistia.

O senhor acha que isso será aprovado?
No Senado não temos falado sobre isso. O único que conversei foi com o Randolfe Rodrigues (Rede), que tem a mesma posição que a minha.

Então isso não passaria no Senado?
Não sei, mas espero que não. Também espero que não passe isso que o Renan quer debater, que eles chamam de projeto de abuso de autoridade. A gente sabe que isso é para proteger as autoridades e não contra abuso de autoridades. E, nesse caso, ainda que a lei fosse boa, não é o momento.

Por quê?
Política se faz com credibilidade e hoje os políticos estão sem nenhuma gordura de credibilidade. Ao aprovar essa proposta, vai passar a ideia de que se está querendo proteger contra a Lava Jato diretamente e outros casos que venham surgir.

Qual a sua avaliação do governo Temer no aspecto econômico?
Para a economia, o desempenho está melhor do que o da Dilma. Mas acho que está demorando muito. Essa demora vem, em parte, da moleza do Congresso, em agir devagar. Mas o Temer tem também de agir como líder. Tem de estar na televisão, na rádio, nos jornais explicando a importância desta PEC do teto. Essa é a PEC do óbvio, você não gasta mais do que tem. Você não entra num restaurante com dinheiro para comprar uma pizza e pede duas.

(Nota publicada na Edição 995 da Revista Dinheiro)