Entre um candidato negro e um branco e um homem e uma mulher, a política de contratação adotada pela maioria dos empregadores é a de um homem branco. Algumas empresas norte-americanas viraram este princípio de cabeça para baixo: contratam o mais discriminado no mercado de trabalho: a mulher negra. Estas empresas adotam ”ação afirmativa”. No Brasil, suas filiais seguiram o mesmo caminho. Um exemplo é a Levi Strauss & CO, a inventora da calça jeans.

“Se há dois candidatos nas mesmas condições, contratamos o menos favorecido no mercado de trabalho”, diz o diretor de Recursos Humanos da Levi’s, Benedito Antônio Pagani, 43. Segundo o executivo, a empresa parte do princípio de que a ‘diversidade de raças, sexo, idade e experiência contribui para a criatividade e melhora a produtividade’.

As declarações do diretor, publicadas em 1995 por um grande jornal, registraram um marco no que diz respeito a ações afirmativas no Brasil. Naquela época, menos de meia dúzia de empresas estrangeiras estavam voltadas ao tema. No Brasil, apenas uma: a Fersol, produtora de defensivos agrícolas, instalada em Mairinque, interior do Estado de São Paulo, cujo presidente, de origem judaica, resolveu inovar direcionando suas políticas de contratação aos menos favorecidos no mercado de trabalho.

Em 21 anos, muitas coisas mudaram. Hoje, dezenas de empresas, inclusive nacionais, adotam políticas afirmativas – estendendo-se a mulheres, LGBTs e portadores de necessidades especiais. As multinacionais continuam na frente: constituem mais de 90% das empresas engajadas no tema.

O setor público entrou em campo meio atrasado – também por conta discussão da constitucionalidade das cotas nas universidades públicas no Supremo Tribunal Federal. Prestes a completar três anos, a lei de cotas no município de São Paulo tem mudado radicalmente a face do serviço público paulistano impactando áreas dos maiores salários como os da a procuradoria do município. Antes da lei, dos mais de 300 procuradores, apenas um era negro. Após o último concurso, destinado a 70 novas vagas, 15 entraram pelo novo  sistema.

Inspirado nesses avanços, em 2013, com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) uma iniciativa pioneira no Brasil reuniu as experiências do setor público e privado, criando o primeiro fórum de desenvolvimento econômico, o São Paulo Diverso, destinado a discutir a contratação, ascensão e permanência de grupos historicamente excluídos do desenvolvimento econômico. O foco nos afrodescendentes se justificou por estarem na base da pirâmide do desenvolvimento.

O encontro, difícil de ser construído – tanto  pela inovação e delicadeza do tema  como pela audácia de realizá-lo em um momento de grande polarização entre os dos dois setores em um ano de eleição presidencial -, foi surpreendente. Foram 130 empresas participantes com diversos representantes do setor público e sociedade civil, totalizando mais de 300 pessoas envolvidas. Foi o maior encontro já realizado na América Latina para debater ações de inserção e desenvolvimento sustentável com bases na inclusão, que chega a sua terceira edição ainda neste ano.

Vale registrar a presença de nomes de peso: o presidente do Carrefour, Charles Desmartis; a embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Liliana Ayalde; o presidente da Camisaria Colombo, Álvaro Jabur Maluf Jr; o diretor global da Diversidade da The Coca-Cola Company, John Lewis; o vice-presidente de Auditoria Interna para América Latina do Walmart Internacional, Alexandre Apparecido; a chefe de RH do Google para América Latina Monica Santos, o vice-presidente do Pará a América Latina da Johnson & Johnson, Samuel Santosm entre outros. O sucesso do evento foi tamanho que depois pude dividir com técnicos e operadores do BID a experiência inovadora do Brasil.

Ao defendermos a diversidade e a inclusão dos menos favorecidos no mercado de trabalho, nos deparamos com frequência com uma série de indagações. Diversidade dá lucro? Porque esse tema tem provocado tanto debate nos últimos anos. Quais as experiências e práticas mais exitosas? Num mundo cada vez mais diverso e polarizado, quais são as vantagens nacionais e internacionais de se apostar na diversidade? Quais são os riscos e benefícios decorrentes quando um executivo resolve apostar na diversidade em sua empresa? Por que gigantes do mercado, como o Carrefour, Coca-Cola, IBM, Microsoft e Bayer, entre outras, têm investido recursos significativos para mudar e diversificar a cor e a cara de seus colaboradores? Quais são os maiores  obstáculos que uma corporação precisa enfrentar  para colocar em prática um projeto de diversidade entre funcionários e prestadores de serviços? Como trabalhar esse tema no Brasil, considerado o país de maior diversidade étnica do planeta, que abriga a maior população negra fora da África e a segunda do mundo,  atrás apenas da Nigéria?

Essas e muitas outras dúvidas é o que tentaremos responder por meio de artigos, entrevistas, notícias e outras abordagens, neste blog, que contará com a periodicidade quinzenal.