07/08/2015 - 0:00
Tardiamente, como quem tenta reparar uma barbeiragem com mero lance de marketing, a presidente Dilma autorizou seus técnicos a estudarem um enxugamento de ministérios, com um cirúrgico corte do aparato que os cerca. A princípio, a tesourada será pequena. Menor que a desejável. Da monumental estrutura de 39 pastas, a maior já vista desde a restauração da democracia, entre cinco e dez ministérios deverão ser extintos ou agrupados em outras esferas.
É quase nada para conter o rombo das contas públicas. O Governo faz, ainda assim, esse movimento premido por críticas externas. Por vontade própria ele manteria tudo como está. Teme perder a governabilidade e a coalizão de forças políticas que angariou na base da concessão de postos na estrutura federal. O famigerado toma-lá-dá-cá.
Uma deturpação que levou a máquina a ser ocupada não por técnicos e sim por apadrinhados partidários com objetivos nada republicanos. Está, nessa condenável prática, a origem das propinas, negociatas e mensalões que sangraram os cofres do Tesouro. De pronto, ao menos a metade dos ministérios e secretarias com status ministerial poderia ser eliminada. Muitas das pastas são de uma insignificância absoluta e a maioria de seus titulares não teve sequer uma única audiência com a presidente.
Nos corredores palacianos, comenta-se que Dilma não sabe listar nem o nome desses seus subordinados diretos.O ato da reforma deveria evitar sobreposições evidentes, como a da existente na área que cuida de planejamento e na que trata de assuntos estratégicos – no fundo, a mesma coisa. Dentro de um cenário de irresponsabilidade fiscal e de gastos correntes descontrolados, os tais 39 ministérios distribuem cerca de 22 mil cargos de confiança, regiamente remunerados. Um despropósito para o qual conta mais o perfil ideológico do comissionado do que a sua competência profissional. Em nenhuma empresa, um esquema como esse ficaria de pé por mais de um ano sem que gerasse ameaça de falência iminente. No Governo, ele já segue como prática corrente há mais de década. Num mundo onde a eficiência e a produtividade são exigidas como princípios fundamentais, o Estado brasileiro segue na contramão. Não por menos deixou um buraco de quase R$ 210 bilhões apenas no primeiro semestre deste ano e de R$ 462 bilhões no acumulado de 12 meses. Imagine quem será chamado a cobrir esse rombo nas finanças governamentais?
(Nota publicada na Edição 928 da Rvista Dinheiro)