14/11/2016 - 0:00
Ana Theresa Borsari é uma das mulheres mais brilhantes da indústria automobilística. Devido ao seu talento, a Peugeot já a levou para gerir uma das quatro regiões da marca na França. Depois, com seus ótimos resultados, enviou-a para presidir a operação da Peugeot na Croácia. Lá, Ana Theresa fez crescer o logotipo do leão nas ruas e descobriu que o povo tem um carinho histórico pelo marechal Tito, um comunista que ousou desafiar o poder de Stalin, da Rússia. Tito é considerado uma espécie de “ditador do bem”, pela defesa intransigente de valores caros ao povo da antiga Iugoslávia.
Mas o grande desafio de madame Borshari é aqui mesmo no Brasil. Quando ela assumiu a direção geral da Peugeot do Brasil, a marca estava em frangalhos, por conta de decisões estratégicas erradas, no que diz respeito aos modelos, e pelo péssimo atendimento prestado pela rede de concessionários. Então começou a revolução. Havia 110 concessionários que jogavam a favor de si próprios e não em parceria com a Peugeot. De 2012 para cá, nada menos de 80% da rede foi modificada. Hoje, a Peugeot do Brasil conta com apenas 110 concessionários. Mas, ao contrário da maioria das marcas, sua rede está em expansão. Até o fim do ano serão mais 20.
“Os clientes da nova rede são os mais satisfeitos do Brasil”, diz Ana Theresa, talvez meio exagerada. “Tivemos um reforço qualitativo. Hoje buscamos parceiros voltados para a excelência, muito mais do que grandes grupos comerciais”, afirma. Ela garante que a capilaridade da rede Peugeot no Brasil é grande, por isso mantém-se pragmática: “Melhor não ter parceria em determinada localidade do que casar com o parceiro errado”.
Com a rede “superfocada”, madame Borshari decidiu lançar um programa de recompra de carros baseado no sucesso do Ciclo Toyota. O nome é Renova Peugeot e funciona da mesma forma. O cliente dá 30% de entrada num financiamento do Banco Peugeot e a partir do 30º mês tem a garantia de que o concessionário pagará 85% do valor da Tabela Fipe, caso queira comprar outro carro. Normalmente, o mercado costuma pagar apenas 80% da Tabela Fipe ou até menos. Isso é uma demonstração da confiança da Peugeot no valor de revenda de seus carros – um dos pontos mais difíceis de mudar na reconstrução da marca, devido ao preconceito dos consumidores.
“A desvalorização é um mito”, diz Ana Theresa. “Tanto que foi a própria rede que bancou a recompra pelo valor de 85%.” O programa Renova Peugeot foi lançado experimentalmente no modelo 2008 Crossway e, devido ao sucesso, será estendido ainda na virada do ano para todos os carros da marca.
Madame Borshari diz que aposta em uma nova mentalidade dos consumidores brasileiros, pois já trabalhou com esse sistema na França. “A noção não é mais a propriedade do carro, pois ele estará alienado, mas sim estar sempre de carro novo”, observa. Ana Theresa diz que “a noção de propriedade está acabando” e que a aquisição de um veículo novo por um sistema como o Renova Peugeot “é o melhor investimento que alguém pode fazer no mercado automotivo hoje”.
A executiva da Peugeot diz que a marca e a rede também estão comprometidas com o programa Total Care, que tem uma lista de compromissos assumidos pela marca perante seus consumidores, mas que ainda não tem o foco em um aumento expressivo de vendas. “Minha maior ambição para 2017 é consolidar esse posicionamento”, afirma. E sem meias palavras, quando lhe perguntamos se a Peugeot já voltou a ganhar dinheiro no Brasil, ela responde sem titubear: “Não”.
Além do crossover 2008, a Peugeot aposta muito na renovada linha do hatch 208, que tem uma versão verdadeiramente esportiva (GT) e outra com o motor convencional mais econômico do Brasil (1.2), segundo o Inmetro. E no primeiro semestre do ano que vem começará a vender o novíssimo 3008, que reduziu sua porção crossover e aumentou suas características de SUV. O carro acabou de ser mostrado nos salões de Paris (setembro) e de São Paulo (novembro).