23/11/2016 - 0:00
Quero relatar neste post os resultados e momentos importantes que presenciamos durante o terceiro 3º São Paulo Diverso – Fórum de Desenvolvimento Econômico Inclusivo com o tema Legislação e diversidade: como as leis podem fortalecer a inclusão racial no mercado de trabalho que abordou, na edição de 2016, prioritariamente, as formas objetivas de se fazer ação afirmativa nas empresas com apoio da legislação. O Fórum aconteceu no início de novembro, no Auditório Elis Regina (Anhembi), reunindo mais de 450 pessoas entre empresários, representantes do Judiciário e sociedade civil. São questões importantes, discussões e conclusões fundamentais trazidas durante o evento e que valem a pena serem registradas.
A empresária brasileira Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, foi a principal atração do 3º Fórum São Paulo Diverso. Ela participou do painel Legislação brasileira e código de conduta a serviço da diversidade nas grandes empresas, relatando sua experiência a discussão do tema da inclusão racial na empresa com os 1 200 gestores de primeira linha da rede. Ela enfatizou a necessidade de assumir na prática a integração de trabalhadores negros, cujo resultado foi imediato.
Numa das lojas de Campinas, no interior de São Paulo, administrada por um gerente negro, a seção de produtos eletrônicos pesados que responde por 70% das vendas, é toda composta por afrodescendentes. “É uma das unidades mais bem sucedidas da companhia”, afirmou Luiza Helena. Ela concorda com a criação de cotas raciais transitórias para as empresas. “A obrigatoriedade é um processo importante num primeiro momento até que os preconceitos sejam superados e a empresa adquira consciência da importância da diversidade”, disse. “Depois, quando mudarmos nossas cabeças, ela se torna uma coisa natural e as cotas se tornam desnecessárias.”
Participante a mesma mesa, a Juíza da 20ª Vara do Trabalho do Fórum Trabalhista da Zona Sul de São Paulo, Mylene Ramos, reiterou a importância de se alterar a visão do Judiciário com relação ao tema. “O Judiciário tem dificuldades ainda em lidar com o assunto; hoje se faz necessário que as empresas criem mecanismos de inclusão, e que as contratações sejam não uma mera obrigação” destacou a juíza. Outro representante do Judiciário, o presidente do TRT da 15ª Região e do Colégio de Presidentes e Corregedores dos Tribunais Regionais do Trabalho (Coleprecor), o desembargador Lorival Ferreira dos Santos, trouxe importantes informações ao público durante o painel Igualdade racial além dos princípios éticos: o valor da inclusão para as empresas e o poder público.
O desembargador foi homenageado com o Prêmio São Paulo Diverso, concedido pela SMPIR a personalidades que se destacaram na promoção do desenvolvimento socioeconômico da população afrodescendente. Em 2015, o Pleno do TRT-15 aprovou proposta, de autoria do desembargador, de reservar para negros 20% das vagas nos concursos públicos para provimento de cargos do quadro de servidores do TRT-15, bem como da Magistratura Trabalhista da 15ª.
Fizeram parte desta mesa a assessora principal da Divisão de Gênero e Diversidade do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Judith Morrison, e os presidentes do Instituto Ethos, Jorge Abrahão, da Bayer Brasil, Theo van der Loo e da Pandora, Rachel Maia. Theo van der Loo relatou sua experiência pessoal e como presidente da multinacional com relação à inclusão racial “A Bayer tem hoje 15% dos empregados negros, a maioria na fábrica. Sou a favor das metas, não das cotas”, observa o Van der Loo, destacando que a Bayer não tem uma política de diversidade específica para negros, mas uma política geral para diversidade. Ele ressalta ainda que a questão racial está no Brasil, e não na Alemanha. “Diversidade é assunto do presidente e tenho aprendido muitos com os negros”, comenta van der Loo.
A presidente da Joalheria Pandora no Brasil, Rachel Maia, relatou sua trajetória profissional até ser reconhecida com uma das mais importantes executivas negras no mercado de luxo. “O importante é investir em qualificação profissional”, ressalta. Formada em Ciências Contábeis, pós-graduada na USP em Finanças e com cursos de especialização em Vancouver-Canadá e Harvard-EUA, Rachel iniciou sua carreira na Seven Eleven como Controller durante sete anos, depois atuou na Novartis Pharmacy por 4 anos e na Tiffany & Co, onde foi responsável pela chegada da empresa ao Brasil e ficou por 8 anos como CFO. Hoje, a CEO Pandora Brasil faz parte do Conselho Geral do Consulado Dinamarquês e Câmara Dinamarquesa, bem como é membro do comitê de presidentes na Câmara Americana. “Não existe cota na Pandora, a empresa tem diversidade naturalmente”, segundo a presidente.
O painel Descobrindo novos talentos – como adotar mecanismos mais inclusivos nos processos de recrutamento contou com as participações de Ricardo Haag – Diretor da Page Personnel, Camilla Veiga – Gerente Sênior de Empregabilidade do Grupo KrotonJoana Rudiger – Gerente de Talentos da Unilever. Os executivos discutiram qual a chave para mudanças de estratégias de inclusão. Todos concordaram que a educação, aproximação das instituições de ensino e investimento em contratações são soluções para a inclusão do negro no mercado formal de trabalho.
As experiências e práticas adotadas pela Microsoft, Coca-Cola, Microsot, Carrefour e do Sindicato dos Comerciários de São Paulo foram destaque no painel Práticas equalitárias para a promoção da igualdade racial no mercado de trabalho. Rodney Williams, vice-presidente da Microsoft, relatou o programa Blacks at Microsoft (BAM), uma rede de funcionários patrocinada pela empresa dedicada a apoiar o crescimento contínuo e o desenvolvimento de funcionários negros na Microsoft Corporation; Raïssa Lumack de Moura, vice-presidente de Recursos Humanos da Coca-Cola Brasil, comentou o programa da Coca-Cola para jovens negros.
“Como a Coca-Cola é uma espécie de franquia no Brasil, com apenas 300 funcionários e 19 cargos ocupados por negros, aprovamos um novo programa em Atlanta (matriz) para aumentar mais 17 vagas a serem ocupadas por afrodescendentes”. Paulo Pianez, diretor de Sustentabilidade e Diversidade do Grupo Carrefour, discorreu sobre as práticas de sucesso do Carrefour, colocando a empresa como a mais representativa da sociedade brasileira, com mais de 50% dos cargos ocupados por mulheres e negros. Já Ricardo Patah, presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, divulgou dados importantes sobre a discriminação hoje existente no universo que emprega mais de 500 mil comerciários. “Temos uma discriminação grave no Brasil: shopping centers não contratam negros e no comércio em geral a remuneração chega a ser 45% menor que a de brancos; um Brasil que tem esta diferenciação não é democrático”, observa Patah. Ele acrescenta que há uma convenção coletiva de cotas para segmento supermercadista.
Neste ano, a programação foi composta por cinco mesas que discutiram a legislação como ferramenta de inclusão social e seu impacto na busca de soluções para o acesso e ascensão dos profissionais negros a oportunidades já existentes no mercado de trabalho formal, no estímulo do setor privado a adotar ações afirmativas em sua gestão interna e de fornecedores e na promoção e articulação entre empresas, empreendedores negros e representantes do poder público para a ampliação da oferta de empregos e a criação de novos negócios.
Palestrantes participantes: Luiza Helena Trajano (Presidente do Magazine Luiza),Theo van der Loo (Presidente da Bayer do Brasil), Rodney Williams (Vice-presidente da Microsoft no Brasil), Rachel Maia (Presidente da Pandora), Mylene Ramos (Juíza da 20ª Vara do Trabalho do Fórum Trabalhista da Zona Sul de São Paulo), Judith Morrison (Assessora Principal da Divisão de Gênero e Diversidade do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID), Lorival Ferreira dos Santos (Desembargador Presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região), Jorge Abrahão (Presidente do Instituto Ethos), Ricardo Haag (Diretor da Page Personnel), Camilla Veiga (Gerente Sênior de Empregabilidade do Grupo Kroton), Joana Rudiger (Gerente de Talentos da Unilever), Raïssa Lumack de Moura (Vice-presidente de Recursos Humanos da Coca-Cola Brasil), Paulo Pianez (Diretor de Sustentabilidade e Diversidade do Grupo Carrefour), Ricardo Patah (Presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo).
Tivemos ainda durante o evento a entrega do 2º Prêmio São Paulo Diverso que reconheceu iniciativas inovadoras e eficazes para a promoção da diversidade racial. A premiação integra a programação do Fórum São Paulo Diverso e tem o objetivo de celebrar esforços corporativos, individuais e coletivos no campo das ações afirmativas dentro do mercado de trabalho, por meio do reconhecimento de iniciativas inovadoras e eficazes para a promoção da diversidade racial.
A escolha dos vencedores foi realizada por uma comissão julgadora composta por representantes da sociedade civil, formadores de opinião e gestores públicos. Foram agraciados com os prêmios: Alex Jen Gonçalves Caldas, Gerente da filial 32 do Magazine Luiza em Campinas, na categoria Prêmio Oportunidade de Ouro; Rede de Profissionais Negros – RDPN (fundada por jovens negros que enfrentam desafios em suas vidas profissionais com o objetivo de incentivar a qualificação profissional e a inserção de profissionais negros em grandes empresas), na categoria Melhor Estímulo a Ação Afirmativa; Microsoft Brasil, na categoria Melhor Empresa de Ação Afirmativa (grupo B.A.M – Negros na Microsoft, criado para apoiar e contribuir no avanço das estratégias de diversidade global da Microsoft) e Lorival Ferreira dos Santos, Desembargador Presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, na Categoria Especial (o Pleno do TRT-15 aprovou proposta, de autoria de Lorival, de reservar para negros 20% das vagas nos concursos públicos para provimento de cargos do quadro de servidores do TRT-15, bem como da Magistratura Trabalhista da 15ª.