01/09/2022 - 8:07
Há alguns anos, durante uma rotineira conversa aberta do CEO de uma empresa com seus funcionários, todos fomos surpreendidos com a confissão de que ele tinha recentemente enfrentado um quadro de depressão. O que se seguiu ao inesperado desabafo foi uma série de depoimentos pessoais de funcionários de vários níveis hierárquicos relatando suas próprias histórias. Ansiedades, depressões, medos e inseguranças – inclusive sobre o trabalho – foram colocados sem receios. Uma espécie de catarse coletiva fez com que naquele momento as pessoas ali presentes deixassem de olhar umas para as outras como colegas de trabalho, para enxergar pessoas.
Não era setembro. Mas a lembrança daquela situação veio bem a calhar no início deste mês. Dia 10 é, oficialmente, o Dia Mundial do Suicídio. Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria organiza, em território nacional, a campanha Setembro Amarelo, campanha de prevenção e combate ao estigma de situações que levam a ele, como quadros de depressão e ansiedade.
+ Doença de Hashimoto: como identificar a condição, que pode afundar sua carreira
A partir do episódio citado no início do texto, a conversa entre líderes e equipe se tornou mais aberta e alguns especialistas foram chamados à empresa para discutir questões de saúde. Da mental à sexual. Em estratégias assim, o ganho é para todos. Mas não se pode romancear. Tratar do assunto em corporações não é fácil, muito menos comum. O medo de quem enfrenta problemas de saúde mental em assumi-los e o despreparo das lideranças e da corporação para acolher os adoecidos ainda tornam o tema um tabu.
O Brasil, com reputação internacional de ter um povo alegre, sorridente e festeiro, amarga a posição de líder mundial em casos de ansiedade e o quinto lugar em casos de depressão, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2019. Em levantamento de 2021, o Ministério da Saúde apontou que 11,3% dos brasileiros foram diagnosticados com depressão, contra média global de 5,3%, de acordo com a OMS. A frequência foi maior entre as mulheres (14,7%) em comparação com os homens (7,3%).
Das estatísticas para as redes sociais, o problema vem se materializando em posts e discussões cada vez mais recorrentes e abertas em plataformas como o LinkedIn. Se a escolha pessoal do indivíduo de se expor é boa ou ruim, não compete a este artigo discutir. Mas certamente é um indício de que há profissionais precisando muito de ajuda para serem ouvidos e acolhidos.
Para marcas responsáveis, com líderes conscientes, essa pode ser uma boa ferramenta para identificar casos que passam despercebidos na loucura insana de culturas corporativas que se preocupavam mais com resultados financeiros, do que com a saúde de quem trabalha para que a empresa chegue lá.