07/10/2016 - 0:00
Em dezembro de 2015, um mês após assumir a distribuição da marca suíça Tag Heuer no Brasil, o executivo Freddy Rabbat anunciou à DINHEIRO um plano ousado para uma grife, até então, adormecida no País: o de liderar o mercado da relojoaria de luxo. Para isso, adotou estratégias que incluem aberturas de novas butiques, parcelamento em até 10 vezes e fidelizar jovens clientes através de uma ferramenta ainda não explorada na alta relojoaria: a tecnologia. “O Connected Watch vem para revolucionar o mercado de luxo. Somos os pioneiros e os únicos a criar um relógio inteligente“, afirmou.
Em um mercado em ascensão, a estratégia parece ter vindo na hora certa. De acordo com dados da consultoria Euromonitor, desde 2011 o mercado brasileiro de relojoaria cresceu 11,9%. “Podemos dizer que o mercado brasileiro está entre os nossos cinco maiores”, afirma Christian Weissbach, CEO da TAG Heuer na América Latina. A Tag Heuer faz parte da gigante francesa LVMH, dona de mais de 60 marcas de luxo, com receita de € 35 bilhões em 2015. No segmento de joias e relógios, a Tag Heuer divide espaço com Bvlgari, Hublot e Chaumet, que renderam para a LVHM no ano anterior € 3,3 bilhões – um crescimento de 19% em relação a 2014. Confira os novos relógios aqui
Leia a entrevista com Freddy Rabbat:
DINHEIRO: Qual foi a grande sacada da marca para se manter forte no mercado há 156 anos?
RABBAT: Nós percebemos antes o que o mercado precisa. Sem dúvida, a sacada mais fenomenal foi a de criar o Connected Watch, um relógio inteligente sofisticado. Ele veio para quebrar paradigmas, veio para chocar o mercado. Muitas marcas estão perdidas, mas, felizmente, a Tag Heuer é comandada por um gênio da relojoaria (Jean-Claude Biver), que soube enxergar o que o mercado precisava. Em parceria com a Apple e com a Intel, criamos o nosso smart watch.
DINHEIRO: O Connected Watch é, hoje, a grande aposta da marca?
RABBAT: Estamos muito empolgados com o produto. Para o lançamento, que ocorreu no final de 2015 nos Estados Unidos, produzimos 100 mil unidades. O sucesso foi tão grande que tivemos que fazer mais 100 mil. Até agora não conseguimos vencer a demanda. Aqui, no Brasil, estimamos que até o Natal a quantidade que trouxemos se esgotará.
DINHEIRO: Quantas unidades, neste momento, serão comercializadas no País?
RABBAT: Não podemos revelar números, mas dessas 200 mil unidades produzidas no ano, acreditamos que, com o mercado brasileiro bem trabalhado, o Brasil tem potencial de representatividade de 3% desse total.
DINHEIRO: Qual é a principal diferença do Connected Watch em relação aos outros relógios inteligentes?
RABBAT: Sem dúvida a sofisticação: ele possui caixa em titânio e vidro em safira, e fecho déployant em titânio. Além do próprio sistema operacional que é compatível com o sistema Android e iOS. Ele tem capacidade para até 4 mil aplicativos. E, como relógio tem toda aquela história de passar de geração para geração, após dois anos de uso, a pessoa pode alterá-lo para um relógio totalmente mecânico. Assim, se tornará eterno.
DINHEIRO: E quanto o cliente terá de pagar pela alteração?
RABBAT: Hoje, o relógio, à vista, custa R$ 7,2 mil. Acreditamos que para transformá-lo em um modelo mecânico, sairá o mesmo preço. No entanto, ainda assim, um relógio da Tag Heuer, que vai durar para sempre, custar R$ 14,4 mil é uma pechincha.
DINHEIRO: O mercado sofreu com a crise?
RABBAT: Todos os setores tiveram retração, sim. O mercado de luxo também sofre com a crise, diferentemente do que muitos possam achar. O nosso cliente pode ter dinheiro, não está desempregado, mas está desempregando. E o luxo que é presentear a si próprio e as pessoas queridas, acaba ficando em segundo plano. Existem marcas que tiveram retração de 30%. Nós, como estamos entrando efetivamente agora no mercado, não temos números negativos, pelo contrário, este ano dobramos as vendas, por unidade, da Rolex. Mas em valor, a Rolex ainda está na frente, pois seus produtos são mais caros. Mas ainda vamos chegar lá.
DINHEIRO: E qual será a estratégia para isso?
RABBAT: Até dezembro, pretendemos inaugurar a segunda butique da Tag Heuer – a primeira foi aberta em 2012, no Shopping Cidade Jardim. Dessa vez, vamos investir no Shopping Village Mall, no Rio de Janeiro. A Tag acabou de mudar o design das butiques. A primeira foi inaugurada em Sydney, na Austrália, o Rio será a segunda a receber esse novo layout, que será surpresa. Hoje, estamos presentes entre 40 e 50 pontos de venda no Brasil e não vamos expandir. Queremos focar em butiques, dessa forma, posicionamos a marca no mercado, com excelência de atendimento, variedade de produtos e, assim, oferecemos o verdadeiro luxo, que é a experiência e o serviço. Queremos dobrar as vendas em 2017 e nos solidificar no mercado.
DINHEIRO: E como fazer para que o brasileiro prefira comprar no Brasil, pagando altos impostos, em vez do exterior?
RABBAT: O Connected Watch custa lá fora cerca de US$ 1,7 mil. Mas a pessoa terá de esperar uma viagem para poder comprar e, muitas vezes, pode não encontrar o modelo, pois está esgotando muito rápido. Ao passo que, aqui, o cliente poderá parcelar em até dez vezes e manter um relacionamento direto com a marca através das butiques. Mais do que ter um produto, essa experiência é fundamental para a fidelização do cliente.
DINHEIRO: Os impostos são, hoje, os principais vilões do mercado?
RABBAT: Sem dúvida. Mas, um dia, acho que o Brasil vai perceber que, ao aumentar imposto, ele estará exportando emprego e consumidor. A hora que entender que o consumo saudável é benéfico para o Brasil, vai parar de exportar tudo isso e começará a trazer o consumidor de volta. Não existe indústria de relógio de luxo no Brasil, então não há competição. Então, por que ficar brigando? Mas estamos otimistas com o novo Governo.
DINHEIRO: O que o brasileiro busca?
RABBAT: Relógios esportivos. Cerca de 80% das vendas são desses relógios. Os sociais, com pulseira de crocodilo e mais ostentosos são raros no mercado. Por isso, a Tag está na frente das outras marcas. Somos a marca mais lembrada pelos brasileiros nesse segmento, desde a época do Ayrton Senna, que era fã dos nossos relógios. O brasileiro se veste de uma forma mais esportiva, mas quer um relógio bacana.
DINHEIRO: Qual será o futuro do mercado?
RABBAT: Há quem acredite que os óculos e os fones de ouvido serão o futuro da comunicação. Eu aposto no relógio. Ele tende a substituir o celular em algum momento. Acho que em dez anos, no máximo. Será o pulso que irá dominar a comunicação. E as outras marcas de luxo terão de se render à tecnologia.