30/10/2015 - 0:00
Aumenta por esses dias a montanha de dívidas dos brasileiros. E ela está concentrada não apenas nos balanços corporativos. Sua intensidade é maior entre as pessoas físicas. A estimativa, segundo dados do Banco Central, é que no crédito direto as famílias já estão renegociando um total de quase R$ 25 bilhões em contratos atrasados. A inadimplência se deu fundamentalmente pelo aumento dos juros, que inviabilizou parcelas e retardou a quitação de compromissos.
Apenas no segmento dos cartões de crédito a taxa atingiu a insuportável casa de 414% ao ano. O juro do cheque especial, por sua vez, superou o índice de 260% anualizado. O maior em 20 anos! Nesse patamar, com os financiamentos mais caros, a redução da renda média e o aumento da inflação, o consumo vem sendo praticamente inviabilizado, comprometendo toda a demanda da cadeia produtiva. Num ciclo perverso, o crescimento do endividamento alimenta ainda mais a recessão. O BC calcula que os débitos em atrasos aumentaram cerca de 14% nos últimos 12 meses.
Considerando-se que também o Governo apresenta um rombo de mais de R$ 51 bilhões, já declarados, – número que pode superar facilmente os R$ 100 bilhões, depois de contabilizadas as pedaladas fiscais – é de se concluir que a inadimplência virou regra tanto na área pública como na privada. A busca de alternativas diante dos problemas para quitação tem mobilizado credores que oferecem melhores formas de pagamento. Mas o movimento ainda é insuficiente para reativar a economia. Analistas são unânimes em apontar que a política de juros altos implementada até aqui terá de ser revista o mais breve possível, sob pena de aniquilar o fôlego financeiro ainda restante no mercado.
As mexidas monetárias que sinalizam a desvalorização cambial em paralelo ao crédito caro, com taxas bancárias proibitivas, retiraram muito dinheiro e poder de compra da população. Não é de surpreender que esse ambiente tenha levado o Brasil a cair cinco postos na lista dos países com mais facilidades para a realização de negócios. Hoje ele ocupa apenas a 116º posição nesse ranking. Afinal, como uma nação endividada pode se desenvolver com tantas amarras?
(Nota publicada na Edição 940 da revista Dinheiro)