A safra brasileira de 2016 pode ser considerada uma safra de enólogos. As péssimas condições climáticas ao longo de todo o ano agrícola, das geadas durante a brotação ao excesso de chuvas na época de crescimento das uvas, comprometeram fortemente não apenas a quantidade, mas a qualidade da produção. Assim, coube aos enólogos testarem toda sua expertise para elaborar brancos e tintos em 2016. Se eles conseguiram ou não salvar a safra é uma pergunta que começa a ser respondida nesse sábado, dia 24 de setembro.

O palco é a 24ª edição da Avaliação Nacional da Safra, evento promovido pela Associação Brasileira de Enologia (ABE), em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. Nele, 850 pessoas vão provar, ao mesmo tempo, as 16 amostras mais representativas da safra, selecionadas entre os 241 vinhos inscritos por vinícolas de cinco estados brasileiros (Bahia, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo) para esse painel. Para chegar aos 16 vinhos, a ABE promoveu, ao longo dos últimos meses, degustações às cegas com enólogos e produtores brasileiros, de todas as amostras recebidas, incluindo vinho-base para espumante (o vinho do ano, antes de ir para a segunda fermentação, quando são formadas as borbulhas).

No evento, também festivo, cada amostra é comentada por um dos 16 especialistas convidados pela ABE, entre enólogos, enófilos, jornalistas e até músicos.

Em tempo, Mauro Celso Zanus, chefe-geral da Embrapa Uva e Vinho, explica, em relatório, por quais razões a safra de 2016 foi tão problemática. “Eventos de granizo, geadas e o excesso de chuvas, determinado pelo fenômeno climático El Niño, têm causado uma perda significativa na produtividade dos vinhedos em todas as áreas produtoras de uvas do Rio Grande do Sul”, escreve ele.

Entre os problemas da safra, descritos por Zanus, estão:
– Inverno de temperaturas amenas (30 a 40% de horas de frio, comparado com o normal), que resultou em uma quantidade menor de ramos por videiras. 
– Frente fria entre os dias 11 a 15 de setembro que atingiu todas as regiões produtoras, ocasionando geadas de média a forte intensidade, que comprometeram a brotação das plantas e diminuiram a produtividade.
– Chuvas bem acima do normal em setembro, outubro e novembro, prejudicando a fecundação das flores e ralearam os cachos.
– O excesso de umidade favoreceu o surgimento de doenças diretamente nos cachos,  com mais queda da produção.
– As chuvas de dezembro e início de janeiro atingiram a qualidade da maturação, com a diminuição de açúcar das uvas.

O resultado é uma perda estimada nesse ano é de 60% da safra, comprometendo não apenas os vinhos, mas também a elaboração do suco de uva. Espera-se que essas 16 amostras mostrem que os enólogos foram hábeis na vinícola, depois de tanta adversidade no vinhedo.