A filial brasileira da Visa, comandada pelo executivo Fernando Teles, passou por um banho de renovação cultural que transformou completamente o modo como a empresa trabalha. No ano passado, a subsidiária da gigante americana de meios de pagamento contratou a Exponential Organization, do guru indiano Salim Ismail, um dos fundadores da Singularity University, para mudar o jeito como atuava. O objetivo era criar um crescimento exponencial a partir de novos negócios e mudar a mentalidade dos funcionários mais acostumados a trabalhar cada um na sua área. Dessa forma, faria com que o time inteiro interagisse nos mesmos moldes das startups, com os chamados squads (esquadrões) nos quais profissionais de todos os departamentos trabalham em conjunto para desenvolver um produto ou solucionar um problema. “O Salim Ismail apresentou toda a metodologia para o time de 150 funcionários e a consultoria passou 10 semanas dentro da Visa”, diz Teles.

 

Quatro startups para decolar

Aparentemente, a tática deu certo. “Os funcionários apresentaram 135 ideias de novos produtos, filtramos para 30, escolhemos 16 e afunilamos para quatro”, diz Teles. As quatro ideias agora estão sendo desenvolvidas e devem virar novos negócios dentro da companhia. É como se quatro startups estivessem sendo gestadas na empresa. “Algumas ideias se tornarão produtos e outras são empresas incubadas internamente”, diz Teles. Ao longo de 2018, elas serão apresentadas. O executivo não revela quais são os projetos, mas indica que serão nas áreas de B2B e mobilidade urbana. Mas, independentemente dos negócios, afirma Teles, o espírito multidisciplinar da forma de trabalhar ficou entranhado na empresa. Detalhe: o programa na subsidiária brasileira, antes visto como piloto, hoje é adotado mundialmente. Indagado se a empresa foi forçada a mudar a mentalidade diante do avanço das startups no mercado de meio de pagamentos, Teles diz que precisa estar junto com a evolução do mercado, mas não pode correr atrás da evolução. “Nós temos que ditar as tendências.”

 

Parceria com fintechs

A relação com as startups também mudou completamente. “Estamos criando uma estrutura para colocar novos participantes no mercado de meio de pagamentos sem que ele precise fazer grandes investimentos. Ofereço um kit para esse novo player”, diz Teles. E prossegue. “Preciso dar o trilho para essas empresas andarem, tenho de estar junto delas.” Muitas das startups começam a atuar e se veem em dificuldade para obter licença de meio de pagamento, de ser uma processadora, de investir. “Eu viabilizo negócios para quem está tendo ideias, como as fintechs de crédito.” Sobre a entrada de gigantes de tecnologia no mercado de pagamentos, caso da Apple Pay, que desembarcou no mercado brasileiro na semana passada, Teles diz ver com bons olhos. “Para nós é muito bom. Todas essas empresas giram em cima de uma plataforma que desenvolvemos. Quanto mais empresas entrarem nessa área, melhor é para a Visa. Para usar o Apple Pay, por exemplo, você tem que cadastrar o seu cartão de crédito.”

(Nota publicada na Edição 1064 da Revista Dinheiro, com colaboração de: Pedro Arbex)