11/07/2019 - 7:30
O jumento, animal-símbolo do Nordeste, chamado de “nosso irmão” em música de Luiz Gonzaga dos anos 1960, está em risco de extinção. Ele perdeu espaço para motos nas propriedades rurais do semiárido e, desvalorizado, virou alvo da cobiça dos chineses.
Quando não são abandonados nas estradas e vítimas de atropelamentos, são levados para abatedouros e têm a carne exportada para a China. Entidades de defesa dos animais se mobilizaram e, em dezembro, uma liminar da Justiça suspendeu os abates na Bahia, Estado que tem o maior número de abatedouros. O governo baiano e os abatedouros entraram com recursos, ainda não julgados.
Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento indicam que as exportações de carne de cavalos, muares e asininos deram um salto depois que os jumentos passaram a compor as cotas de abate.
Das 24,9 mil toneladas exportadas em 2016, o volume passou para 40,7 mil em 2017 e avançou para 226,4 mil toneladas no ano passado – quase dez vezes mais.
Ainda segundo a pasta, seis abatedouros ou frigoríficos brasileiros estão autorizados a abater equídeos, incluindo os asininos. São três unidades na Bahia, e outras em Minas, Paraná e Rio Grande do Sul.
O ministério informou que está vigente a decisão judicial da juíza da 1.ª Vara Federal de Salvador, Arali Maciel Duarte, em ação civil pública movida pela União Defensora dos Animais, Rede e Mobilização pela Causa Animal – Remca, Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, SOS Animais de Rua e Frente Nacional de Defesa dos Jumentos que, em 10 de dezembro de 2018, proibiu o abate de jumentos, muares e bardotos no Estado da Bahia. Conforme a pasta, atualmente o rebanho de asininos no Nordeste está quantificado em 812,4 mil cabeças, o que representa 90% do efetivo brasileiro.
A situação só não está pior para esse asininos por causa da atuação das organizações de defesa dos animais. No fim do ano passado, em Canudos, interior baiano, cerca de 200 jumentos estavam presos, em condições de extremos maus-tratos, à espera do abate para terem a carne e o couro exportados para a China. Outros 800 animais vagavam pela fazenda, doentes e com fome – carcaças achadas na propriedade revelaram que ao menos 200 já haviam morrido. A polícia descobriu que a fazenda tinha sido arrendada por chineses, que adquiriram cerca de mil animais trazidos de várias regiões do Nordeste.
Os animais seriam levados para abate em um frigorífico da região. A Polícia Civil abriu um inquérito para apurar os maus-tratos. A promotora Cristina Seixas Graça, coordenadora do centro de apoio às Promotorias do Meio Ambiente da Bahia considerou que muitos animais morreram de inanição e notificou a Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab). A empresa dos chineses foi multada em R$ 40 mil.
A advogada Gislane Brandão, coordenadora da Frente Nacional de Defesa dos Jumentos, descreveu o cenário de horror que encontrou na fazenda de Canudos. “Havia dezenas de jumentos mortos, muitas carcaças espalhadas pelo campo. Os animais sobreviventes estavam desnutridos, pois ficaram meses sem alimentação.”
Em janeiro, a ONG Fórum Nacional de Proteção e Defesa de Animal assinou acordo com a Justiça e Ministério Público para receber e cuidar dos jumentos sobreviventes. O Fórum recebeu a tutela de 800 deles, livrando-os do abate. Uma parte foi adotada por pessoas da região e criadores comprometidos com a causa animal.
Adoção
A entidade iniciou campanha para arrecadar recursos para alimentar e medicar os asininos. A ideia é que todos eles sejam dados em adoção. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.