29/08/2019 - 13:30
O encarregado de negócios da embaixada do Brasil nos Estados Unidos, embaixador Nestor Forster, saiu em defesa do governo nesta quarta-feira, 28, e chamou de “histeria injustificada” a reação internacional sobre as queimadas na Amazônia. Em uma entrevista para a NPR (Rádio Pública Nacional, na sigla em inglês), Forster classificou como “desonesto” ligar o problema ao governo Jair Bolsonaro e disse que parte do problema é a “imagem apocalíptica da Amazônia queimando”. O diplomata sugeriu também que a floresta não pode servir só para turismo de europeus.
“No último mês de junho tivemos a maior operação já conduzida contra desmate ilegal. A maior já feita, em junho, antes da primeira manchete dizendo que a Amazônia está queimando e toda essa histeria injustificada, se me permite dizer”, disse Forster. O presidente Donald Trump afirmou na terça-feira, 27, que Bolsonaro “está trabalhando duro nos incêndios na Amazônia”.
“Os dados mostram, não é minha opinião. Baseado em fatos, se as queimadas estão dentro da média dos últimos 15 anos, por que toda a gritaria agora? Tentar ligar isso ao presidente Bolsonaro parece desonesto para mim”, disse o diplomata.
Questionado sobre o aumento nas queimadas, Forster afirmou que os dados atuais são melhores do que os registrados em 2005, 2007 e 2010, por exemplo. O número de focos de incêndio para todo o Brasil entre janeiro e 24 de agosto era o maior dos últimos sete anos para o período, com alta de 82% em relação ao ano passado. Comparando só o mês de agosto, houve mais focos de queimadas nos anos de 2005, 2007 e 2010. O ano de 2015 foi o último recorde de desmate na região e 2010 foi um ano extremamente seco.
Sob a condução de Forster, a embaixada assumiu papel de protagonismo na defesa da imagem do governo no exterior. Na mesma entrevista, Forster afirmou que o País não quer “ver a Amazônia rodeada de grandes fãs europeus com dinheiro virem durante as férias para visitar a fauna exótica enquanto 25 milhões de brasileiros estão lá sem oportunidade”. Perguntado na sequência sobre o que é mais importante para o governo, se a preservação ou o desenvolvimento econômico, disse que “não é sobre o mais importante, esse é o desafio”.
Forster está encarregado pela embaixada do Brasil em Washington desde meados de junho, quando foi promovido ao primeiro escalão da carreira de diplomata. A cadeira de embaixador estava vaga desde o início do mês, com a volta do então embaixador, Sérgio Amaral, ao Brasil.
A expectativa na embaixada era de que Forster, considerado um diplomata alinhado com o governo Bolsonaro, fosse o nomeado para o cargo. Em julho, no entanto, o presidente anunciou o desejo de indicar o filho Eduardo Bolsonaro, deputado federal pelo PSL-SP, para a vaga.
Crise
A reação internacional às queimadas na Amazônia é considerada por diplomatas como a maior crise diplomática recente do País, com o embate direto entre o presidente e o líder francês, Emmanuel Macron. Antes do ápice dos questionamentos internacionais à política ambiental de Bolsonaro, a embaixada do Brasil em Washington já havia tomado a dianteira no tema: Forster passou a responder, com cartas, o que nos bastidores classifica como percepções equivocadas de publicações estrangeiras.
Foi o caso da resposta enviada à revista Foreign Policy, por exemplo, que publicou artigo inicialmente intitulado como “Quem vai invadir o Brasil para salvar a Amazônia?”. O título foi posteriormente alterado. Em carta à revista, Forster chamou de “exercício irresponsável de retórica arrogante” sobre o tema.
Além das cartas, Forster passou a falar com a imprensa estrangeira esta semana. Na entrevista publicada pela NPR no fim da tarde desta quarta, o embaixador disse que as queimadas estão sob controle e são um fenômeno sazonal. Na entrevista, Forster afirmou que é uma “falácia” relacionar as políticas do governo Bolsonaro com as queimadas e com uma suposta impunidade a atividades ilegais na Amazônia.
Até o momento, a principal correlação encontrada para o aumento no número das queimadas é a alta no desmatamento. Alertas feitos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam aumento de mais de 40% no corte da floresta entre 1º de agosto de 2018 e 31 de julho deste ano, em comparação com os 12 meses anteriores. Ambientalistas e lideranças do agronegócio pedem que Bolsonaro retome o controle do desmate.
Ainda na entrevista, Forster afirmou que a ajuda externa não pode ser condicionada. Isto é, que o Brasil está aberto a cooperação e doações desde que não venham como uma interferência. “Não rejeitamos dessa forma (o dinheiro do G-7), o Brasil está aberto a qualquer cooperação internacional desde que não tenha nós atados. Não gostamos de ver pessoas com ‘a Amazônia pertence ao mundo, à humanidade’. Não, a Amazônia dentro das fronteiras brasileiras, pertence aos brasileiros”, afirmou. Macron chegou a falar sobre um status internacional para a floresta, o que motivou críticas de Bolsonaro.