05/01/2020 - 12:46
Em 7 de janeiro de 2015, o cartunista Charb publicou um último desenho premonitório. “Ainda não houve ataques na França”, constatava, antes de imaginar um jihadista com um kalashnikov nas costas: “Temos que esperar até o final de janeiro…”.
Pouco depois das 11h00 daquele dia, ele morreu sob as balas de Sherif e Said Kouachi. Os irmãos jihadistas mataram 12 pessoas na sede da revista satírica Charlie Hebdo e em uma rua adjacente, em Paris. Membros da redação, convidados, policiais… “Vingamos o profeta Maomé! Matamos Charlie Hebdo!”, gritaram os assassinos na rua.
Quarenta e oito horas mais tarde morreram em uma operação liderada por uma unidade de elite da polícia francesa, nos arredores de Paris.
No mesmo dia 9 de janeiro, um cúmplice entrou em cena. Durante uma tomada de reféns no supermercado Hyper Cacher na entrada da capital, Amedy Coulibaly atacou a comunidade judaica e matou quatro pessoas antes de ser morto pela polícia.
No dia anterior, matou uma policial municipal em Montrouge (região de Paris).
– Espírito Charlie –
Dezessete mortos e o começo de um ano sombrio na França. Cinco anos depois, os atentados de janeiro de 2015 permanecem na memória dos franceses.
Na França e no mundo, a comoção foi imensa. Em 11 de janeiro, milhares de pessoas foram às ruas com o grito de mobilização “Eu sou Charlie”.
Mas, na França como em outras partes do mundo, a liberdade de expressão permanece abertamente desafiada por alguns que se recusam a “ser Charlie”. Além do caso das charges de Maomé, os estrangeiros descobrem um jornal satírico acostumado a chocar muito além do imaginável.
– Onda jihadista –
A França sabe que a ameaça jihadista adquiriu uma magnitude totalmente diferente. Os meses seguintes confirmaram que uma nova era havia começado. Depois das convocações do grupo Estado Islâmico (EI) para atingir a França, as ações se multiplicaram.
Em fevereiro, três militares foram esfaqueados em Nice (sudeste) em frente a um centro comunitário judeu. Em abril, um estudante de informática suspeito de planejar um ataque a uma igreja em Villejuif, nos arredores de Paris, foi preso depois de matar uma mulher em um estacionamento.
No final de junho, um motorista de entrega decapitou seu chefe e exibiu sua cabeça em frente a uma fábrica em Isère (leste). E em agosto, uma carnificina foi evitada no trem Thalys que liga Amsterdã a Paris.
Essa série sombria terminou com o ataque mais sangrento de todos. Na noite de 13 novembro, três comandos coordenaram ataques no estádio de futebol do Paris Saint Germain, em bares e restaurantes no leste de Paris e na casa de espetáculos Bataclan. O saldo foi de 130 mortos.
A França, ferida pelo ataque mais grave em seu território desde o final da Segunda Guerra Mundial, adotou o estado de emergência.
Desde então, os ataques continuam e a “ameaça terrorista permanece alta”, segundo a inteligência francesa.
Cinco anos depois, um novo capítulo será aberto na França, o da verdade judicial. De maio a julho, 14 suspeitos acusados de fornecer apoio logístico aos irmãos Kouachi e Amedy Coulibaly serão julgados em Paris perante um tribunal criminal especial.