Por Katharine Houreld

NAIRÓBI (Reuters) – Soldados da Eritreia e milícias de Tigré estupraram, detiveram e mataram refugiados eritreus em Tigré, região do norte da Etiópia, disse a Human Rights Watch (HRW) nesta quinta-feira.

O relatório da entidade internacional de direitos humanos detalhou os ataques nos arredores de dois campos de Tigré, onde forças locais combatem o governo etíope e seus aliados eritreus desde novembro em um conflito que abala a região do Chifre da África.

Dezenas de milhares de refugiados eritreus moram em Tigré, uma província montanhosa e pobre de cerca de 5 milhões de habitantes.

Os moradores de Tigré desconfiam dos refugiados por serem da mesma nacionalidade dos soldados eritreus ocupantes, e os eritreus porque a lealdade dos refugiados é questionada desde que eles fugiram de sua terra natal.

“Os assassinatos, estupros e saques horrorosos contra refugiados eritreus em Tigré são crimes de guerra claros”, disse Laetitia Bader, diretora da HRW para o Chifre da África, cujo trabalho noticiado primeiramente pela Reuters se baseou em entrevistas com 28 refugiados e outras fontes, inclusive imagens de satélite.

O Ministério da Informação da Eritreia não retornou de imediato ligações pedindo comentários, mas anteriormente o país negou atrocidades e disse que suas forças não visam civis.

Um porta-voz da Frente de Libertação do Povo do Tigré disse que forças formais e uniformizadas de Tigré só foram recentemente para a área e que é possível que abusos tenham sido cometidos por milícias locais.

“Foi somente no último mês, mais ou menos, que nossas forças rumaram para aquelas áreas. Havia uma grande presença do Exército eritreu lá”, disse Getachew Reda à Reuters. “Se havia grupos de justiceiros agindo no calor do momento é algo que não posso descartar.”

Investigadores internacionais são bem-vindos para visitar a área, disse ele.

Antes do conflito em Tigré, a Etiópia abrigava cerca de 150 mil refugiados eritreus em fuga da pobreza e de um governo autoritário.

Grande parte do relatório da HRW se concentrou nos dois campos de Shimelba e Hitsats, destruídos durante os combates. A HRW citou cifras do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), segundo o qual 7.643 dos 20 mil refugiados vivendo na ocasião nos campos de Hitsats e Shimelba ainda estão desaparecidos.

O Acnur disse estar “alarmado” com os relatos de “sofrimento imenso” em campos de refugiados, que não conseguiu acessar entre novembro e março.

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