03/04/2022 - 11:41
Aos 68 anos, a Petrobras é uma das grandes empresas brasileiras com maior índice de rotatividade na liderança: Adriano Pires, indicado para assumir o comando da estatal petrolífera, será o 40.º executivo no cargo desde 1953, quando a empresa foi fundada. Isso quer dizer que a permanência dos executivos é inferior a dois anos. Descontada a mais longa das administrações, de sete anos, o índice cai para pouco mais de 18 meses.
Isso evidencia que a constante “dança das cadeiras” da presidência da Petrobras não é exclusividade do governo Bolsonaro – que, em pouco mais de três anos, chega ao terceiro presidente da estatal: Pires substitui o general Joaquim Silva e Luna que, por sua vez, entrou no lugar de Roberto Castello Branco. Por trás dessa rotatividade está uma antiga queda de braço: o efeito das decisões da Petrobras nos preços dos combustíveis, que afetam o dia a dia da população.
“A Petrobras não é uma empresa independente, é dependente”, resume Silmão Silber, professor do Departamento de Economia da USP. “Depende do humor do presidente, do ministro da Economia ou da Fazenda e também do ministro da Infraestrutura ou de Minas e Energia, conforme o governo da hora.” Segundo Silber, o descompasso entre mercado e interesses políticos é inevitável: “Os objetivos da empresa não são os mesmos de quem quer se eleger – ou não deveriam ser”, resume.
Trata-se, portanto, de uma situação que a Petrobras vive praticamente desde a sua criação. Nos governos Sarney e Collor, entre 1985 e o fim de 1992, época marcada pela hiperinflação, a estatal trocou dez vezes de presidente em sete anos. Na outra ponta, José Sergio Gabrielli ficou durante sete anos no cargo, nos governos Lula e Dilma. Entre os presidentes da estatal destacam-se ainda o executivo Ozires Silva (fundador da Embraer) e o expresidente Ernesto Geisel.
A instabilidade da liderança da Petrobras foi definida logo de cara, aliás: até hoje, o mandato mais curto na estatal é de Juracy Magalhães, primeiro executivo a assumir o cargo. Depois dele vem Ivan Monteiro, executivo que fez carreira no Banco do Brasil e assumiu um mandato “tampão” no fim do governo de Michel Temer.
O governo Temer, aliás, mostra que nem administrações que se dizem “pró-mercado” estão imunes à pressão para a mudança que vem de atores externos. Visto por analistas como um gestor que “arrumou a casa” após um período difícil para a estatal, Pedro Parente acabou caindo em 2018, depois da greve dos caminhoneiros, deflagrada como protesto por causa da insatisfação com os preços dos diesel.
APREENSÃO.
Apesar de a Petrobras ser conhecida por trocar de comando com frequência, duas “baixas” no comando da estatal em cerca de um ano podem sim acender um sinal amarelo, afirma Regis Chinchila, analista da Terra Investimentos. Isto dito, Chinchila diz não esperar grandes flutuações de preços dos combustíveis para 2022. Ele diz que Adriano Pires foi bem recebido pelo mercado por ter defendido, ao longo do tempo, o respeito às flutuações internacionais do petróleo e do dólar na definição dos preço internos.
Já o presidente do Citi no Brasil, Marcelo Marangon, afirma que a troca de líderes não preocupa se a política de preços for mantida. “A Petrobras tem uma governança estabelecida e tem tomado decisões adequadas de repasse de preço. A governança tem funcionado bem”, disse.
Para Marcelo Gasparino, conselheiro da Petrobras e representante dos acionistas minoritários, as demissões dos últimos dois presidentes ocorreram a despeito dos bons resultados apresentados pela companhia. “Essa troca rotineira de presidentes tem sido um incorrigível problema de ainda haver empresas estatais no Brasil”, afirma.
PROTEÇÃO.
Para proteger as empresas controladas pelo governo de ingerência política, a Lei das Estatais foi criada em 2016, estabelecendo, por exemplo, a regra de que um candidato a presidente da estatal não pode ter participado de campanhas eleitorais nos últimos três anos.
Sócio e presidente da Mesa Corporate Governance, Luiz Marcatti diz que as mudanças na Petrobras refletem os “anseios políticos do acionista controlador”, já que o governo tem a maioria das cadeiras do conselho de administração. “Mas hoje o nome precisa passar pelo ritual de governança, que tem funcionado bem. Desde as mudanças na companhia, a governança está mais forte e quem assumir precisa cumprir o que determina o estatuto da companhia.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.