O uso de substâncias alucinógenas por alguns cultos religiosos é conhecido no Brasil inteiro. Grande exemplo é o chá de ayahuasca, usado pela religião do Santo Daime para provocar alterações na consciência, como forma de chegar a um estado de meditação, de transcendência.

O cacau, apesar de conhecido por ser a matéria-prima para a composição do chocolate, também é presença ao final de rituais para que os participantes atinjam um diferente estado emocional. Grupos xamânicos, neopagãos, umbandistas, tântricos, holísticos e quetais fazem uso do cacau, que se assemelha a uma sobremesa, mesmo com a manutenção do gosto amargo.

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O primeiro passo ‘poção mágica’ é ralar a barra de cacau 100% feita em uma cidade da Bahia, Coaraci, sem açúcar ou leite, orgânica. As sementes, antes de trituradas em um moinho de pedra, são fermentadas à sombra e secam ao sol para manutenção de suas propriedades. A proporção é de duas colheres do item para uma xícara de água.

Com a água adicionada, a mistura vai fogo leve, em uma panela de alumínio, após o recebimento de orações. A panela é exclusiva para o feitio da bebida. Com a temperatura e sem parar de mexer, surge uma espuma branca no topo do caldeirão. A mudança do tom da espuma para caramelo indica que é hora de desligar o fogo. A bebida, se fervida, pode perder os encantos.

Voltando ao cacau, o fruto tem como origem floresta amazônica e já existia há sete mil anos na bacia alta da região. E, segundo resultados de testes de carbono feitos por pesquisadores equatorianos e franceses, seu uso social data de 5,5 mil anos, e comprovam que o cacau foi muito utilizado em cerimônias realizadas pelos povos Mayo-Chinchipe-Marañon.

Os olmecas, civilização que existiu entre 1.400 a.C. e 400 a.C., teriam sido os primeiros a fermentar, torrar e moer a semente do cacau — antes só se comia a polpa cremosa e adocicada que a envolve. Os maias e os astecas subiram o patamar do cacau a alimento sagrado, incluindo-o em cerimônias com sacrifício humano. A plantação era controlada por reis, e as sementes serviam para pagar impostos e comprar utensílios. Apesar da indústria dos achocolatados dominar a economia, na região chamada Mesoamérica ainda hoje há povos que mantêm a tradição de fazer bebidas com o cacaueiro. Contudo, quando o geólogo norte-americano Keith Wilson se estabeleceu em 2003 em San Marcos, na Guatemala, iniciou-se uma onda mundial de misticismo em torno do cacau.

O Geólogo estadunidense Keith Wilson passou a residir na cidade de San Marcos, na Guatemala, no ano de 2003. Após aprender como era feita a bebida, Keith passou a fazer meditações usando a bebida de cacau e veiculou conteúdos diversos na internet, se tornando o “xamã do chocolate”.

Keith, então, recebeu diversos visitantes do mundo, que frequentavam e aprendiam os processos para criação de seus próprios cultos e cursos. Com isso, muitos brasileiros trouxeram o culto para o país.

Nos dias de hoje, há retiros similares ao de Keith Wilson na zona cacaueira da Bahia, com a mesma fórmula de visita às plantações e festejos na floresta, misturando mitologias locais e estrangeiras.