19/05/2022 - 19:01
O ALMA, maior radiotelescópio do mundo, no coração do Atacama, no norte do Chile, busca dobrar sua capacidade de capturar o universo em imagens até 2030 após fechar durante a pandemia de covid-19, diz seu diretor, o astrofísico canadense Sean Dougherty.
O objetivo do Grande Conjunto Milimétrico/submilimétrico do Atacama (ALMA) é focar suas 66 antenas localizadas a mais de 5.000 metros de altitude na planície de Chajnantor, neste deserto chileno, para obter imagens melhores do que as recentemente publicadas do buraco negro no centro da Via Láctea.
+EHT, um telescópio para observar como um buraco negro suga a matéria
“Esperamos aumentar a amplitude de banda dos sistemas de telescópios idealmente em quatro, o que significa que poderíamos dobrar nossa capacidade de imagem, e o tipo de imagem que vimos na semana passada seria mais delicado e denso e, portanto, com mais detalhes”, afirmou Dougherty.
Depois de seis meses fechado durante a pandemia, o ALMA retomou suas atividades para observar o céu e retomar projetos astronômicos desenvolvidos em nível internacional.
O radiotelescópio precisa dobrar sua sensibilidade na hora de recriar as imagens captadas por suas 66 antenas (54 com diâmetro de 12 metros e 12 com diâmetro de sete metros), cujos sinais são combinados entre si para atuar como um mega telescópio.
“ALMA é único por ser um telescópio muito grande e sensível. Podemos mover nossas antenas tão perto quanto dez metros e tão longe quanto 16 km. Isso nos dá a capacidade de olhar para uma ampla gama de resoluções, e isso significa detalhes”, diz Dougherty.
– Lugar único –
Além da capacidade técnica de suas antenas – construídas em conjunto pelo Observatório Europeu Austral (ESO), a Fundação Nacional de Ciência dos Estados Unidos (NSF) e os Institutos Nacionais de Ciências Naturais do Japão (NINS) – o observatório está localizado em um lugar único no mundo.
“Estar no Chile, no altiplano a 5.000 metros (sobre o nível do mar) nos posiciona por cima da maior parte da água na atmosfera. Soma-se a isso o fato de o deserto do Atacama ser um dos lugares mais secos do mundo. Assim, o ALMA é, de longe, a instalação milimétrica mais destacada do mundo”, aponta o diretor do projeto.
As antenas brancas se destacam no alto da Cordilheira dos Andes, em meio a uma paisagem de cores laranja e ocre que contrastam com o céu azul limpo, um dos mais claros do mundo para observação astronômica.
O deserto do Atacama, o mais seco do mundo segundo especialistas, ajuda com sua aridez a evitar as distorções geradas pela umidade na atmosfera, explica Francisco González, supervisor de manutenção das antenas, que aguardam uma revisão individual excepcional em 2023, dez anos após sua instalação.
Para uma maior capacidade de observação, as 66 antenas possuem – sobre os mais de 5.000 metros de altura – quase 200 locais pelos quais se movem em um imenso transportador de 100 toneladas com 28 rodas, em função das necessidades de cada estudo mundial que solicita o uso do ALMA, onde 22 países trabalham em conjunto.
“Percebemos que estamos deixando um legado para as gerações futuras pelo fato de trabalhar aqui. Eu sou uma das pequenas engrenagens que movimentam todo esse belo maquinário do ALMA”, diz o operador do transportador Patricio Saavedra, 45 anos, após realocar uma das grandes antenas.