A história das Lojas Americanas é de evolução e resiliência ao longo dos seus 94 anos de existência. Tanto que os principais acionistas da companhia afirmaram que pretendem manter seus investimentos mesmo após o golpe recente sofrido: a descoberta de um rombo de R$ 20 bilhões nas suas contas, o que levou à demissão do presidente e do diretor financeiro da empresa.

Apesar disso, o futuro da companhia é incerto, com especialistas afirmando que a empresa irá precisar realizar um enorme processo de capitalização para continuar a operar.

A companhia foi fundada em 1929 por um grupo de americanos chamados John Lee, Glen Matson, James Marshall e Batson Borger. A ideia era atender um público de renda estável, porém modesta, como funcionários públicos e militares de menor nível e patente, atraindo-os com preços reduzidos e um slogan que dizia Nada além de 2 mil réis”, inspirados em lojas dos Estados Unidos que vendiam tudo por 5 ou 10 centavos na época. No Brasil, não existiam muitas lojas focadas nesse público.

Eles acabaram escolhendo o Rio da Janeiro como local para fundar a empresa, sendo que a primeira loja foi aberta em Niterói. O modelo se mostrou bem sucedido e ao final do primeiro ano a companhia já tinha quatro lojas, 3 no RJ e uma em SP. Ela se tornou uma sociedade anônima em 1940, promovendo a abertura de seu capital e mantendo uma expansão razoável, porém lenta.

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Mudança no controle e saída do setor supermercados

Apenas em 1982 a empresa passou por uma mudança significativa na liderança, já que o Grupo Garantia passou a controlar a maioria das ações das Lojas Americanas. A companhia também vendeu as suas participações na empresa 5239 Comércio e Participações, que tinha 23 lojas de supermercado, para a francesa Comptoirs Modernes (do Grupo Carrefour). Com isso, deixou o setor de supermercado e focou no segmento de varejo, com lojas menores e descontos atrativos.

Entrada na era digital e rápida expansão física

Em 2000 a empresa entrou com tudo na era digital, lançando a Americanas.com. A companhia conseguiu uma grande capitalização logo no ano seguinte, por parte de empresas como a Chase Capital e a AIG, que investiram US$ 40 milhões e passaram a ter uma participação de 33% no novo portal da companhia.

A companhia também lançou um programa de expansão em 2003 que se prolongou com força até o final da década, ampliando sua presença primeiro no Sudeste e Sul. Também lançou o conceito “Americanas Express”, lojas menores sem tanta variedade de produtos, mas com itens essenciais a preços baixos para as compras do dia-a-dia. No total, foram abertas mais de 350 lojas.

Em 2005, a companhia adquiriu o Shoptime, canal de TV e site de comércio eletrônico, em joint-venture com o Itaú. Já em 2006 foi criada a B2W – Companhia Global de Varejo, produto da fusão da Americanas.com com o Submarino. No ano seguinte, a empresa comprou a BWU – detentora da marca Blockbuster no Brasil, abrindo mais 127 lojas. A companhia continuou expandindo suas lojas físicas e a B2W continuou sua expansão internacional, com a sua marca Ingresso.com chegando a cinemas da Argentina e do Chile.

Em 2012, as Lojas Americanas já estavam presentes em 254 cidades do País em 25 Estados e no Distrito Federal. Também ampliou o número de centros de distribuição para melhorar a sua estrutura logística entre 2012 e 2013, terminando este último ano com 952 lojas. Em 2015, a empresa chegou à 1 mil lojas, com a inauguração da unidade em Paraty (RJ).

Americanas.com

O lançamento do portal Americanas.com em 2000 foi um marco para a companhia, sobretudo pelo alto investimento tecnológico e pelo papel pioneiro no setor. Ao final do ano de lançamento, a empresa já contava com 175 mil clientes e se tornou uma das principais varejistas de comércio eletrônico do país. O portal teve um crescimento acelerado indicando que a companhia estava se adaptando às novas tendências do varejo.

Em 2002, o portal já representava 8,7% das vendas da companhia, alcançando 1 milhão de visitantes únicos por mês em 2003. Esse número foi triplicado em 2004 e a Americanas.com se tornou o maior portal de e-commerce do país.  Já em 2005, com a aquisição do Shoptime, a companhia agregou mais clientes e foi considerada o melhor site de comércio eletrônico no Prêmio Ibest.

Como citado, em 2006 surgiu a B2W (atual Americanas S.A.), que detém três portais de e-commerce: Americanas, Shoptime e Submarino, tornando-se a maior empresa de comércio eletrônico da América Latina. A integração com o Submarino foi sendo promovida nos anos seguintes e a empresa consolidou sua presença entre as principais companhias de comércio digital, com um aumento de capital de R$ 2,38 bilhões em 2014.

Dentre as empresas adquiridas nos anos seguintes pela B2W estão a Direct, de logística de e-commerce, a Click – Rodo, outra operadora logística, o Sieve Group, focado na prestação de serviços para e-commerce. No entanto, a companhia vendeu a Ingresso.com em 2015 por R$ 280 milhões, assim como a Submarino Viagens. Em 2019, a companhia anunciou que abriria sete centros de distribuição até 2022 e um escritório na China para operar vendas on-line de produtos estrangeiros no país asiático.

Em 2021, a Lojas Americanas S.A. e a B2W Digital S.A. se fundiram em uma única empresa, formando a Americanas S.A.. A companhia conta com mais de 3.800 lojas atualmente, além de possuir quatro portais de e-commerce. Ela vende mais de 80 mil itens de quatro mil empresas diferentes. A liderança atual é formada pelos empresários Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira, que também comanda a Inbev e a GP Investimentos, além de outras companhias.

De acordo com ranking da Conversion divulgado no fim de 2022, o portal das Lojas Americanas aparece no 5º lugar entre as principais empresas de e-commerce do Brasil. Considerando o Submarino e o Shoptime, que também são controlados pela B2W, a companhia estaria na 4ª colocação, pouco atrás da Shopee, que teve 162 milhões de acessos em novembro de 2022 (contra 123 milhões da Americanas, 18 milhões do Submarino e 17 milhões do Shoptime).