Desde que o ano virou, dólar tem enfrentado uma pressão baixista e, nesta quinta-feira, 23, na semana da posse de Donald Trump, a moeda operou abaixo dos R$ 5,90 pela primeira vez em meses, fechando o dia a R$ 5,925.

O mercado reage aos primeiros dias sem grandes turbulências de Donald Trump no comando da Casa Branca. Com Trump não enrijecendo a política tarifária dos EUA como o inicialmente esperado, a moeda perdeu força ante pares globais.

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Paulo Gala, economista e professor de Fundação Getúlio Vargas (FGV), comenta que esse contexto mostrou que parte da pressão na cotação do dólar tinha muito a ver com a política dos EUA, em detrimento da preocupação com o endividamento e equilíbrio das contas públicas no Brasil.

“O câmbio derreteu sem nenhuma novidade do lado fiscal, somente com essas novidades do Trump sobre as tarifas. Além disso temos a preocupação dele com a inflação, que está presente em quase todas as suas falas até então, e o mercado tem medo de políticas inflacionárias”, comenta.

Dólar mais perto de R$ 5,50?

Gala destaca que Trump já tem pressionado a autoridade monetária americana – o Federal Reserve (Fed) – para cortes de juros. A visão do economista é que o diferencial de juros ‘deve ficar brutal’, com 4% de Fed Funds nos EUA e uma taxa básica de juros (Selic) no Brasil em torno de 14%, deixando o diferencial em 11 pontos percentuais (p.p.), o maior para as últimas décadas.

Nesse contexto, ressalta que se o cenário permanecer neste rumo, o dólar possivelmente ficará mais próximo dos R$ 5,50 do que dos R$ 6.

Eduardo Gribler, gestor de multimercados da MW Asset, endossa que esse patamar de câmbio pode sim se sustentar ao longo do primeiro semestre.

“Se a gente pega projeções de 18 meses atrás, o topo da banda das estimativas chegava ali pelos R$ 5,40. Isso não quer dizer que a gente vai recuar para esse valor, porque teve piora relevante na trajetória fiscal. Todavia, isso pode ser visto como indicativo no caso de manutenção ou melhora das nossas expectativas domésticas”, analisa.

O especialista defende que a principal barreira para o câmbio voltar abaixo dos R$ 5,60 é a política fiscal do Brasil, que “teve uma piora relevante” em 2024 e um anúncio de pacote de corte de gastos além do desejável.

‘Problemas fiscais ainda não foram resolvidos’

Luan Aral, especialista em câmbio da Genial Investimentos, analisa que o mês de janeiro foi “de fato, mais ameno”, mas que o fiscal ainda é o principal fator que afasta um cenário de dólar mais aliviado.

Para esse primeiro semestre, sinaliza que haverá votação do orçamento de 2025 e de 2026, o que pode trazer bastante volatilidade para a moeda. Ele ainda acrescenta que o Banco Central está “mais ativo na questão monetária e cambial”, com as políticas que foram adotadas desde dezembro, incluindo leilões de swap cambial bilionários.

“Os problemas fiscais ainda não foram resolvidos, inclusive tem muita coisa por vir aí. A situação fiscal, sem dúvida nenhuma, é o fator mais importante nesse momento”, diz Aral.

Como Trump tem mexido com os mercados

Já em queda firme, o dólar intensificou sua retração nesta quinta, 23, após as declarações de Trump no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.

O mandatário foi mais conciliatório com relação à China e não sinalizou a imposição imediata de tarifas.  O republicano afirmou ainda que pretende “exigir que as taxas de juro recuem imediatamente” porque as suas políticas reduziriam os preços do petróleo. Segundo Trump, o aumento da produção de petróleo exerceria pressão descendente sobre os custos da energia, reduzindo a inflação.

Nesse contexto, o real apresenta o melhor desempenho entre as principais divisas globais, seguido de perto pelo seu principal par, o peso mexicano.

O índice DXY, que mostra a força do dólar ante uma cesta de moedas, renovou sua mínima abaixo dos 108 mil pontos.

Assim, o dólar fechou abaixo de R$ 6 pelo segundo dia consecutivo, aos 5,9255 reais — a menor cotação desde 27 de novembro do ano passado, quando encerrou em 5,9141 reais. Em janeiro, o dólar acumula baixa de 4,10%. Veja cotações.