14/10/2016 - 0:00
Desde 2005, quando a falência do Banco Santos foi decretada deixando um passivo de R$ 3,4 bilhões, os credores lutam para receber parte do dinheiro. O encarregado da tarefa é o catarinense Vânio Aguiar (foto ao lado). Ele é administrador da massa falida da instituição financeira que pertenceu a Edemar Cid Ferreira. Recentemente, o nome do ex-banqueiro voltou aos holofotes depois de que a tela Hannibal, do artista Jean-Michel Basquiat (1960-1988), foi leiloada em Londres por 10,56 milhões de libras esterlinas (R$ 42 milhões). A obra de arte, parte da coleção de Edemar, foi achada pelo FBI, em 2007, em um galpão de Nova York como se não valesse nada. Vânio Aguiar, que somente refere a Edemar como “o falido”, conversou com a coluna:
Como foi a recuperação da tela do Basquiat?
A recuperação deste quadro se deu depois de longa batalha judicial na Corte de Nova York com uma empresa que se dizia proprietária: a Broadening Info-Enterprises, sediada no Panamá. Para tanto, tivemos que ingressar com pedido de extensão de falência no Brasil, onde residia seu procurador, Dr. Herberto Carnide, hoje falecido.
O senhor esperava esse sucesso com a venda?
O fato de, no ano passado, termos colocado esta obra à venda, em Nova York, sem lance de qualquer espécie (ninguém fez oferta pelo quadro, cujo preço inicial era de US$ 6,8 milhões, em leilão da Sotheby’s), tornava nossas expectativas muito reduzidas.
Quantas obras de arte já foram vendidas para pagar os credores?
Já foram vendidas seis obras no exterior, no montante de R$ 53 milhões. E mais 63 obras que estavam no imóvel do falido, no total de R$ 25 milhões. Todas estas 69 obras foram vendidas pela Sotheby´s.
Qual é o tamanho do rombo deixado pelo Banco Santos?
Os passivos do Banco Santos são da ordem de R$ 3,43 bilhões, tendo sido pago aos credores R$ 1,23 bilhão. Hoje, o saldo remanescente é de R$ 2,2 bilhões. Entretanto, outras empresas do falido (Procid Participações, Procid Investimentos, Invest Santos, Alsace Lorraine, Sanvest Participações e Santospar Participações) têm passivos próximos a R$ 2 bilhões.
O senhor acredita que conseguirá pagar todos os credores?
Eventual pagamento integral somente ocorrerá caso o processo se alongue e a inflação continue superando o índice de atualização dos passivos, que no caso é a TR, índice que corrige a poupança.
Além de obras de arte, o que mais está à venda para pagar os credores?
Imóveis (um deles é a mansão da Rua Gália, no bairro do Morumbi, onde Edemar morava), obras de arte que estão lá e em museus. Estes bens são avaliados em R$ 140 milhões. No caso dos imóveis, efeitos suspensivos concedidos recentemente tornam sua realização incerta. Outro ativo relevante é a carteira de crédito que pode gerar caixa em torno de R$ 400 milhões no médio prazo, dependentes de decisões favoráveis da Justiça e capacidade de pagamento dos devedores quando isto ocorrer.
Edemar Cid Ferreira tenta de todas as formas barrar essas vendas. Ele pode tentar reaver o dinheiro na Justiça? Como o senhor tem trabalhado nesse sentido?
Aceitando naturalmente as tentativas do falido, sempre contando com o Poder Judiciário na defesa do interesse dos credores.
(Nota publicada na Edição 989da Revista Dinheiro)