14/02/2017 - 12:52
A história do empresário Edson de Godoy Bueno, que morreu nesta terça-feira 14, é no mínimo peculiar e inspiradora. Sinônimo de negócios na área de saúde, ele teve uma infância modesta na cidade de Guarantã, pequena cidade próxima a Bauru, no interior paulista. Aos cinco anos perdeu seu pai e foi criado pela mãe Leontina e o padrasto, motorista de caminhão.
Quando criança, Edson fazia serviços como engraxate na cidade para ajudar na renda familiar. Nessa fase, enfrentou uma série de problemas na escola, tendo repetido por quatro anos a quarta série primária, equivalente hoje ao 5º ano do ensino fundamental.
Aos 14 anos, contudo, um fato mudaria completamente seu destino. Em relato próprio, ele diz que brincava em um armazém sobre sacos de algodão quando caiu e desmaiou. Ao despertar sob os cuidados do médico da cidade, tomou a decisão de estudar Medicina. “A partir daquele momento comecei a estudar para seguir a medicina”, diz Bueno. Aos 28 anos, formou-se pela Faculdade de Medicina da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, depois incorporada pela UFRJ.
Ascensão meteórica
Médico recém-formado, Bueno trabalhava numa pequena casa de saúde em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Nesta época, em 1971, a clínica ofereceu ao empresário que administrasse os negócios e assumisse as dívidas com os médicos.
Sem caixa, o empresário decidiu morar na própria clínica e, para atrair clientes, contratou uma Kombi para transporte de mães e seus filhos recém-nascidos até suas residências, além de distribuição grátis de refrigerante e sanduíche de mortadela para pacientes e seus acompanhantes. Conseguiu gradativamente sanear as contas da clínica e se preparar para novas empreitadas.
Sete anos mais tarde, agora com a administração de quatro clínicas, começou a observar o trabalho da Golden Cross, o embrião do que seria mais tarde a Amil. “A ideia surgiu quando vi o balanço da Golden Cross no jornal”, diz Bueno. “Eles ganhavam muito mais do que nós ao vender planos de assistência médica.”
Nos anos 1980, convidou o médico Jorge Rocha, amigo da clínica em Duque de Caxias, para estruturar a Amil, que se tornou um dos maiores planos de saúde privada do Brasil, que fez deles um dos homens mais ricos do Brasil. Segundo a Forbes, sua fortuna atualmente é estimada em US$ 3,1 bilhões.
Em outubro de 2012, ele vendeu a Amil para os americanos da UnitedHealth, em um negócio de mais de R$ 6 bilhões. Com parte dos recursos, ele assumiu o controle do laboratório Dasa, maior rede da América Latina, hoje dirigida por seu filho, Pedro Bueno.
No ano passado, ele deixou o comando da Amil. Em seu lugar, assumiu Cláudio Lottenberg, uma indicação sua. Segundo relatos de amigos, ele andava angustiado com essa mudança, pois, pela primeira vez, deixara o dia a dia da empresa que fundara.
Obsessivo com os negócios, considerado workaholic, Bueno costumava dormir quatro horas por dia em uma rotina de trabalho incessante e muito voltada aos negócios. Ele mesmo concluiu quatro cursos de administração, três deles em Harvard, quando cultuou amizades até a sua morte, como a de gurus do marketing e administração como Philip Kotler e Michael Porter.
Nesta terça-feira 14, ele jogava tênis em Búzios, quando sentiu-se mal e teve um enfarte fulminante.