24/09/2017 - 19:57
O advogado Antonio Claudio Mariz de Oliveira afirmou, neste domingo, 24, que causou “grande indignação” a acusação feita pelo corretor Lúcio Funaro de que ele teria avisado o presidente Michel Temer do acordo de delação do doleiro. Mariz é acusado por Funaro de – ainda à época em que o defendia – ter repassado a informação de que ele estaria iniciando tratativas para uma delação premiada ao presidente, em 2016, supostamente violando seu sigilo profissional. O advogado reagiu enfaticamente contra a acusação do colaborador, por meio de nota.
“Eu soube que ele (Funaro) estava cogitando de uma eventual e incerta delação, pois recebi, não por engano como ele afirmou, mas por sua iniciativa (…), mensagens que havia trocado com advogados de Curitiba sobre o tema. No entanto, não comuniquei este fato ao Sr. Presidente, que, repita-se, não estava respondendo a nenhum procedimento e não era meu cliente. A realidade dos fatos teria sido revelada se eu houvesse sido consultado”, afirma Mariz no comunicado.
Segundo Mariz, “nesta mesma ocasião, pouco tempo depois, o Sr. Funaro ligou-me aos berros, proferindo ofensas, pois segundo ele eu teria informado o Palácio do Planalto sobre a suposta delação. Reagi com veemência, para minutos depois receber um outro telefonema, dizendo-me haver se enganado, pois soube não ter sido eu o autor do “vazamento”. Agora, para minha estupefação, quando de sua efetiva delação, deu uma versão que havia sido desmentida por ele mesmo”.
Em delação, o doleiro afirmou ter enviado por engano a Mariz, em junho de 2016, quando o advogado ainda era seu defensor, uma mensagem sobre honorários que deveria ter sido endereçada ao criminalista Figueiredo Basto, que o ajudaria em sua colaboração com o Ministério Público Federal. Ele afirmou que, à época, estava em tratativa para trocar de advogado.
O delator disse que, após enviar o e-mail acidentalmente, foi sondado pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima sobre a possibilidade de delatar. Segundo Funaro, Mariz teria contado ao presidente Michel Temer, seu amigo e então cliente, sobre o avanço do doleiro em seu intento de colaborar com investigações.
O delator relatou também ter se reunido, em 2016, com o advogado da J&F Francisco Carlos de Assis e seu então defensor, Antonio Claudio Mariz de Oliveira, para alinhar sua estratégia de defesa com a de Joesley Batista.
O advogado deixou a defesa do presidente nesta sexta-feira, 22, alegando conflito de interesses, por ter prestado serviços a Funaro, cuja delação embasa a última flechada do ex-procurador-geral da República contra Michel Temer (PMDB). Para seu lugar, Mariz indicou o criminalista Eduardo Pizarro Carnelós.
Confira a íntegra da nota de Mariz
Recentemente foram divulgados fatos a respeito das minhas relações profissionais com um ex cliente, Sr. Luiz Funaro. Divulgação que me provocou grande indignação, quer por não estar consentânea com a realidade, quer porque não fui sequer ouvido.
Segundo a matéria, o Sr. Funaro em uma colaboração premiada afirmou ter eu comunicado ao Sr. Presidente Michel Temer a sua intenção de fazer delação, intenção esta que teria manifestado por email para mim enviado por engano.
No entanto, os fatos verdadeiros e não indagados são os que passo a narrar:
1- Deixei a defesa do referido cliente em meados de 2.016, período em que ele estava em liberdade e eu não advogava para o Presidente, pois ele não estava sequer sendo investigado. Assim, não havia nenhum nexo entre uma defesa e a outra, que à época inexistia. Não permaneci como defensor do Sr. Funaro, pois ele não seguiu minha orientação em determinado aspecto da sua defesa. Por mensagem, afirmou compreender a minha atitude, e agradeceu o trabalho desenvolvido em seu prol. Ficou combinado que eu devolveria parte dos honorários, fato que posteriormente ocorreu “QUERO AGRADECER DESDE JÁ TODO O ESFORÇO FEITO POR VOCES NA MINHA DEFESA E REAFIRMAR MINHA GRATIDÃO AO ESCRITÓRIO”
2- Eu soube que ele estava cogitando de uma eventual e incerta delação, pois recebi, não por engano como ele afirmou, mas por sua iniciativa (…), mensagens que havia trocado com advogados de Curitiba sobre o tema. No início do email a mim remetido ele diz ” PARA SEU CONHECIMENTO -” e reproduz comunicados dele e dos advogados. No entanto, não comuniquei este fato ao Sr. Presidente, que, repita-se, não estava respondendo a nenhum procedimento e não era meu cliente. A realidade dos fatos teria sido revelada se eu houvesse sido consultado.
3- Nesta mesma ocasião, pouco tempo depois, o Sr. Funaro ligou-me aos berros, proferindo ofensas, pois segundo ele eu teria informado o Palácio do Planalto sobre a suposta delação. Reagi com veemência, para minutos depois receber um outro telefonema, dizendo-me haver se enganado, pois soube não ter sido eu o autor do “vazamento”. Agora, para minha estupefação, quando de sua efetiva delação, deu uma versão que havia sido desmentida por ele mesmo. Talvez se trate de versão mais adequada aos fins objetivados pela mídia irresponsável e parcial.
Durante quase cinquenta anos de exercício da advocacia, jamais resvalei em qualquer preceito ético, incluindo aqueles referentes ao sigilo profissional. No entanto, independente desse aspecto, causa estranheza maior a repercussão dada a um fato, nos dias de hoje corriqueiro, como é o da colaboração premiada. A delação passou a ser uma possibilidade pública e notória por parte de todo investigado ou acusado, não se tratando, portanto, de nenhum segredo e não causa surpresa a sua eventual efetivação, que é esperada.
Estes foram os fatos. Esta é a verdade, infelizmente não reproduzida por uma mídia que prefere uma versão, embora falaciosa, que atenda melhor aos seus objetivos políticos alguns e inconfessáveis outros, mesmo que venha a tisnar a honra alheia.