14/03/2022 - 16:00
O Barão do Rio Branco (1845-1912) foi o mais influente diplomata e ministro das Relações Exteriores que o País já teve. Foi ele quem negociou e assinou tratados com Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Uruguai, Argentina e Guiana Holandesa para delimitar as fronteiras que hoje conhecemos na América do Sul. Também negociou com a Bolívia a assinatura do Tratado de Petrópolis, em 1903, que incorporou ao Brasil o estado do Acre.
Em seu livro Efemérides Brasileiras, Rio Branco expressa de forma clara a vocação para o diálogo e o sentimento pacifista do povo brasileiro. Graças ao Barão, desde 1947 é o Brasil quem abre as Assembleias Gerais da ONU. Em plena Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética endossaram a neutralidade brasileira – que, historicamente, não tem qualquer paralelo com o que ocorre hoje entre o governo Bolsonaro e a guerra de Vladimir Putin na Ucrânia. Na última reunião da ONU, em 25 de fevereiro, o Itamaraty acertadamente votou contra a Rússia. Já Bolsonaro, que poucos dias antes da invasão russa havia se encontrado com Putin, preferiu o silêncio.
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A posição dúbia do Brasil na guerra não é neutralidade, muito menos o exercício da paz e da diplomacia. Se qualquer vizinho do Brasil fizesse o mesmo por aqui, o tal slogan “Brasil acima de todos” se faria valer pelos caminhos militares. Como o próprio presidente já disse de forma risória ao se referir ao então candidato Joe Biden: “quando acaba a saliva tem que usar a pólvora”. Infelizmente, o Brasil não tem demonstrado saliva nem pólvora para resolver qualquer um de seus problemas.
Sob a ótica econômica, o argumento de que o Brasil deve se esforçar para manter o fluxo comercial com a Rússia não se sustenta. Destino de 0,6% das exportações brasileiras, a Rússia é um anão comercial para as empresas brasileira. Países como Marrocos, Arábia Saudita, Jordânia e Egito – alguns dos maiores produtores de fertilizantes do mundo – já se apresentaram para suprir a demanda do agronegócio nacional.
Por outro lado, a pseudoneutralidade brasileira na guerra pode gerar rusgas do País com seus principais parceiros. Em 2020, China (destino de 33,8% das exportações do Brasil), Estados Unidos (9,88%), Holanda (4,15%) e Argentina (3,63%) foram, segundo o Ministério da Economia, os maiores compradores dos produtos Made in Brazil.
A cobrança de um posicionamento mais enfático do governo Bolsonaro nessa quase Terceira Guerra Mundial não significa um desejo nacional de partir para um conflito armado. Não é isso que o povo quer, não é isso que o Brasil precisa fazer e não é algo que as Forças Armadas estariam prontas para operar. O que se espera do Brasil é a defesa dos tratados internacionais, da soberania dos países e da condenação da tirania. É o que o Barão de Rio Branco, se estivesse vivo, provavelmente diria ao presidente Jair Bolsonaro. A covardia fantasiada de neutralidade é um tiro no pé. Se o Brasil insistir em ficar em cima do muro da guerra, o tombo será grande.