Em extensa reportagem publicada pelo The New York Times, o jornal americano trouxe detalhes do desenvolvimento do 737 MAX, avião que sofreu dois acidentes nos últimos seis meses e que agora está parado após um movimento global para interromper seu uso até que novas medidas de segurança sejam tomadas. O texto relatou que o gatilho para a produção apressada do 737 MAX – versão modernizada de um best-seller da empresa, produzido desde 1968 – ocorreu quando a American Airlines anunciou sua maior compra de aviões da história, logo de sua principal rival, a Airbus, após décadas de exclusividade da aérea com modelos Boeing.

Para reconquistar a antiga cliente exclusiva, a centenária empresa da Chicago abandonou a ideia de criar um avião do zero – que demoraria 10 anos para ser entregue – e voltou seus olhos para uma modernização do clássico 737, que demoraria apenas seis anos para começar a ser operado. Com a decisão feita, a fábrica da Boeing se tornou uma panela de pressão, com engenheiros tendo que entregar desenhos em velocidade duas vezes mais rápida que o normal e diretores de setores tendo que realocar funcionários de outras partes da fábrica para ajudar no desenvolvimento do 737 MAX.

Segundo pessoas que trabalharam no projeto, o ritmo de produção intenso fez com cerca de 16 desenhos técnicos fossem entregues por semana, o dobro do normal. O problema é que técnicos que recebiam estes documentos alegavam a falta de detalhes técnicos, como a ligação de cabos e fios que, segundo engenheiros, seriam detalhados “mais à frente no projeto”. O problema é que sem instruções sobre qual ferramentas usar em determinadas ligações podem causar má instalação e gerar efeito cascata no funcionamento do avião.

Porém, um dos principais pontos do 737 MAX era criar um avião moderno, econômico sem muitas mudanças em relação aos seus antecessores. Esse era um dos pré-requisitos para a Boeing, que buscava criar um modelo que não necessitasse de novos treinos para pilotos para que pudesse ser certificados rapidamente e entrar em operação. O pedido fez com que diversas modernizações fossem realizadas pela metade, caso do cockpit, que não teve novos mostradores ou indicadores adicionados. A única mudança foi a transformação dos displays analógicos em digitais. Em respostas as alegações de que o processo foi mais rápido que o normal, a Boeing divulgou nota dizendo que “o programa se iniciou em 2011. Foi oferecido a clientes em 2012, e o primeiro modelo ficou pronto em 2015. Um processo de diversos anos não pode ser considerando corrido.”

No entanto, no centro da polêmica da segurança dos 737 MAX está o sistema MCAS, um software que joga o nariz do avião automaticamente para baixo quando percebe um ângulo perigoso para evitar o Estol. Por funcionar de maneira automática, a Boeing achou que não era necessário treinar pilotos para lidar com ele. Mas segundo a apuração da caixa preta do acidente da Lion Air, a queda do avião foi causada por um sensor disfuncional, que acarretou em uma queda involuntária do avião até que ele perdesse sustentação e caísse. A Boeing anunciou hoje que atualizou seu sistema de estabilização. Agora, resta saber como ele funcionará na vida real.