19/05/2020 - 10:49
A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, comemorou nesta terça-feira (19) a prisão na França de Félicien Kabuga, considerado o “tesoureiro do genocídio de Ruanda” de 1994, pedindo ao mundo que “localize os sete últimos acusados”.
Kabuga, de 84 anos, dos quais 25 foragido, foi preso no sábado perto de Paris, onde vivia sob uma identidade falsa.
+ Chefe da ONU diz que mundo paga ‘preço alto’ por estratégias divergentes no combate à pandemia
+ China pede que EUA pague suas dívidas com a ONU
“Esperamos que, graças a esse sucesso, todos os Estados redobrem seus esforços e tomem as medidas necessárias para localizar os últimos sete acusados, para que eles também possam ser levados à justiça”, disse Bachelet em comunicado, sem mencionar os nomes dos demais procurados.
A alta comissária também observou que essa prisão, “26 anos após o genocídio, ressalta o amplo alcance da responsabilidade penal internacional”.
Kabuga foi acusado em 1997 pelo Tribunal Penal Internacional de Ruanda (TPIR) por sete acusações, incluindo genocídio.
Ele é acusado principalmente de ter criado as milícias Interahamwe, o principal braço armado do genocídio de 1994, que causou 800.000 mortos em Ruanda, essencialmente entre a minoria tutsi, segundo a ONU.
Também é conhecido por ter usado a Rádio Televisão Free Thousand Hills (RTLM), presidida por ele, para reforçar o ódio étnico entre os hutus e tutsis em Ruanda.
“O caso Kabuga e os efeitos da propaganda difundida pela RTLM lembram fortemente o que esses discursos podem levar e por que é tão importante se opor a eles”, disse Bachelet.
Refugiado na Suíça em julho de 1994, antes de ser expulso, Kabuga mudou-se temporariamente para Kinshasa. Em julho de 1997, foi relatado que ele havia escapado de uma operação para detê-lo em Nairóbi e depois outra em 2003, segundo a organização não governamental TRIAL.
Kabuga era alvo de um mandado de prisão por parte do Mecanismo para Tribunais Penais Internacionais (MTPI), a estrutura encarregada de concluir os trabalhos do Tribunal Penal Internacional para Ruanda (TPIR).
Ele era um dos principais acusados ainda foragido, junto com Protais Mpiranya, que dirigia a guarda do então presidente ruandês, Juvénal Habyarimana, e o ex-ministro da Defesa Augustin Bizimana.
Depois de ser entregue às autoridades judiciais francesas, Kabuga foi preso preventivamente e passará por um processo de extradição diante de uma câmara do Tribunal de Apelações de Paris. Este órgão decidirá sua entrega ao MTPI em Haia para julgamento.