06/07/2020 - 13:02
“Nós já temos tradição de inovação, inclusive esse é um dos nossos valores há anos. Mas sinto que precisamos fazer algo mais profundo e mais impactante”.
Essas palavras de Carlos Villa, fundador e presidente do Conselho de Administração da Solví Ambiental, empresa líder no setor de tratamento e valorização de resíduos, inspiraram uma busca incessante pela melhor forma de exponencializar a cultura da inovação, encontrando soluções para as necessidades atuais e construindo oportunidades futuras. O desafio maior era fazer tudo isso sem perturbar programas e iniciativas já existentes. De fato, até 2019, a empresa havia premiado inúmeros projetos de inovação nas suas diversas unidades produtivas, denominadas de Unidade de Valorização Sustentável (UVS), em vez de simplesmente “Unidades de Negócios”. Um diferencial e tanto, que vai muito além de um mero jogo de palavras.
Assim como na Solví, o histórico de várias empresas com inovação é intenso e extenso. Muitas vezes a criatividade é um dos pilares da cultura das empresas. Porém, quando é necessário ir além, o conceito de open innovation pode constituir um ótimo caminho para complementar essa jornada. Desta forma, além das soluções incrementais já em curso no programa de inovação da empresa, é possível criar espaço convergente para soluções disruptivas e exponenciais.
No caso da Solvi, a solução concebida pelos seus dirigentes, sob a liderança do Celso Pedroso, CEO, com o apoio de consultores especializados, foi a de arquitetar um “Innovation Hub” no negócio ambiental. Ou seja, foi desenvolvido um ecossistema de inovação capaz de atrair startups que possam oferecer soluções tecnológicas prontas ou cocriar soluções proprietárias para desafios já identificados ou, até mesmo, para oportunidades ainda nem percebidas. Tudo em um ambiente de interação com várias startups, ‘fora dos muros’ da empresa.
Assim, nasceu a SMARTie, subsidiária de uma grande corporação na forma de uma Corporate Venture, com foco na busca de inovação diferenciada. Trata-se do primeiro exemplo deste tipo de operação destinada ao segmento ambiental no País. E já começa lançando um conjunto de desafios, com a ousada meta de atrair cerca de 300 startups.
Esse modelo pode ser uma resposta ao desafio de inovar e se reinventar enfrentado por várias empresas brasileiras neste momento de preparação para a nova realidade pós-Covid-19.
Os líderes empresariais precisam começar a pensar no prazo de validade dos seus negócios. Nesse sentido, é necessário ir muito além de moldar soluções dirigidas às prioridades atuais da empresa. Simultaneamente, é importante identificar possíveis ameaças disruptivas. Afinal, faz toda a diferença se antecipar e não ser surpreendido por soluções inesperadas, que podem destruir seu atual modelo de negócios. Também é fundamental saber onde e como estariam surgindo novas ideias no core business e nos segmentos de atuação de interesse da sua empresa.
Atuar com a filosofia de open innovation permite preparar o plano diretor de uma venture capital, incluindo sua concepção, estruturação de governança e gestão, bem como a definição do processo de interação com os ecossistemas pertinentes e dos resultados desejados. Assim, fica construída a ponte para, então, selecionar startups relevantes, visando formatar uma aceleradora.
Iniciativas como essa possuem interessante via de mão dupla. Por um lado, o aporte de recursos financeiros, além da capacitação em gestão, disponibiliza uma espécie de ‘laboratório’ imensamente atrativo para startups testarem suas ideias e, eventualmente, escalarem seus negócios. De outro, soluções de fato ‘fora da caixa’ podem se tornar decisivas para empresas tradicionais, que atuam em mercados já maduros.
Segue nessa mesma direção a experiência da Usiminas, que estruturou rede de atuação com mais de uma dezena de startups. Recentemente, essa icônica siderúrgica se destacou entre as melhores práticas compartilhadas no movimento #VamosVirarOJogo, por um projeto piloto desenvolvido em parceria com a startup mineira Cargo Sapiens. O valor dessa dinâmica é enfatizado por Sérgio Leite, CEO da empresa, “pela importância na aceleração de processos internos e diminuição dos gastos envolvendo a contratação de frete internacional”.
Já a WEG, multinacional brasileira sediada em Santa Catarina, adotou tática um pouco diferente, porém também eficaz. Adquiriu o controle acionário da startup Mvisia, fundada em 2012, no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia da Universidade de São Paulo, para criar soluções de inteligência artificial aplicada à visão computacional para a indústria.
Vários outros exemplos também poderiam ser mencionados, incluindo o da Basf com o Onono, iniciativa bastante arrojada na busca de soluções inovadoras, além da 3M, que tem a inovação em seu DNA.
Outra tendência precisa ser salientada. Trata-se do diferencial que pode ser gerado a partir do chamado ‘smart money’: algumas corporate ventures começam a adotar uma prática que transcende o mero investimento financeiro e podem aportar o “capital intangível” na forma de mentorias, apoio à gestão e construção de pontes entre as startups investidas e o poderoso network das suas conexões.
Esses exemplos ilustram bem como os líderes precisam ser inovadores não apenas nas soluções de produtos e serviços, mas na própria arquitetura de busca das inovações. Isso é ‘inovar na inovação’ e, acredite, também não é um jogo de palavras. Trata-se de um mantra que merece ser repensado e praticado pelas lideranças em todos os níveis.
Afinal, é preciso se transformar para ser um agente da transformação que sua empresa necessita e que o momento exige!