11/09/2020 - 18:20
Os juros futuros, assim como os demais ativos, não sustentaram a melhora vista pela manhã e passaram a subir à tarde, alinhados ao ritmo de piora do câmbio e deterioração do humor externo. Mais sensíveis aos mercados internacionais, as taxas longas renovaram máximas a partir da última hora de negócios e a curva retomou os ganhos de inclinação, que pela manhã eram neutralizados justamente pela tentativa de recuperação dos ativos lá fora e queda do dólar.
Na ponta curta, as taxas fecharam a sexta-feira de lado, com o mercado já em compasso de espera pela decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), de olho no chamado “forward guidance” da política monetária, dado o consenso das apostas em torno da manutenção da Selic em 2% na quarta-feira.
O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022, o mais líquido, fechou com taxa de 2,85%, de 2,843% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2023 encerrou em 4,14%, de 4,114% na quinta. O DI para janeiro de 2025 terminou com taxa de 5,98%, de 5,974% na quinta, e a do DI para janeiro de 2027 avançou de 6,953% para 6,97%.
Após a forte pressão de alta sobre a curva na quinta-feira provocada pela “mão pesada” do Tesouro no leilão de prefixados, o mercado ensaiou um ajuste nesta sexta de manhã, com taxas em queda moderada, acompanhando o alívio do dólar. Já se notava, porém, que era uma melhora frágil, com risco de não vingar até o fim do dia, pois não havia respaldo de notícias positivas nem aqui nem no exterior. No começo da segunda etapa, o recuo do dólar e dos juros começou a perder força até que ambos passaram a subir, também sem um gatilho claro.
Newton Camargo Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, considerou a virada dos ativos como “movimentos de mercado”. “Não tivemos nada de novo, mas sim a permanência de um contexto ruim. Os ruídos, sobre preço do arroz e material de construção e outros continuam. É uma instabilidade bem característica de um dia para posições rápidas e curtas”, disse.
Lá fora, há desconforto com os impasses nas negociações do Congresso americano para o pacote fiscal trilionário e pessimismo também sobre o acordo comercial pós-Brexit. No Brasil, seguem presentes as preocupações com o risco fiscal dadas as ameaças ao teto de gastos, que ampliam a expectativa com relação a um desfecho para o programa Renda Brasil.
A próxima semana tem a Superquarta da política monetária, com decisões sobre juros no Brasil, Japão e Estados Unidos. Aqui, com o mercado amplamente posicionado para a manutenção da Selic em 2%, o que gera ansiedade mesmo é a sinalização do comunicado do Copom sobre o que vem depois.
Analistas dão como certo ajuste na linguagem para um tom ainda mais conservador do que no anterior – ou até, para alguns, o colegiado pode deixar explícito que o ciclo de cortes acabou e que a taxa fica onde está nos próximos meses.