A minha paixão pelo futebol americano começou em 31 de janeiro de 1988, quando desembarquei em Washington DC, capital norte-americana, para um Programa de Relações Internacionais na conceituada School of Advanced International Studies.

Naquele mesmo dia, no início da noite, o time da casa, o Redskins, ganhou o Super Bowl, a grande final da Liga Nacional de Futebol Americano (NFL). As ruas estavam recheadas de celebrações e acabei sendo contagiado por aquelas vibrações. Comecei a pesquisar tudo o que podia para entender a dinâmica e as regras daquele jogo. Na mesma noite, ao subir no elevador do Hotel Four Seasons, em que estava hospedado, fui cumprimentado por ninguém menos que o cantor Sting, já famoso na época. Foi um dia inesquecível.

Depois desse episódio, passei a assistir várias partidas de futebol americano. Fui até Nova York ver o New York Giants jogar e estiquei até Boston para um jogo do New England Patriots. Em 1995, viajei a Miami para assistir o Super Bowl no qual o 49ers, de San Francisco, derrotou o Chargers, de San Diego. A essa altura já conhecia as táticas e manhas desse esporte muito peculiar.

Todas essas lembranças vieram à tona no último dia 7, quando comecei a assistir à histórica 55ª edição do Super Bowl. Não era apenas mais um jogo, mas sim um duelo especial que torci muito para presenciar. De um lado, Tom Brady, 43 anos, já consagrado com seis campeonatos, atuando como quarterback do Buccaneers. Do outro, o jovem de 25 anos, Patrick Mahomes, quarterback do Chiefs e campeão no ano passado.

A bolsa de apostas apontava franco favoritismo do Chiefs, que selaria a vitória da juventude impetuosa do Mahomes contra a experiência conservadora do Brady, apontado por muitos como candidato a se aposentar para “sair por cima”. Porém, o que assistimos foi um show majestático do veterano. Com talento, competência, determinação e liderança inspiradora, ele conduziu o time para uma vitória esmagadora por 31 a 9. Brady não ganhou sozinho. Afinal, ele já tinha convencido o Buccaneers a contratar seu ex-companheiro do Patriots, Rob Gronkowski, construindo uma dupla infernal que marcou dois touchdowns nesse jogo. E o curioso é que o técnico do time campeão, Bruce Ariens (68), estava aposentado desde a temporada de 2017.

Não posso perder a oportunidade de utilizar esse jogo como metáfora para ilustrar alguns pontos que sempre defendo na minha trajetória como consultor de empresas e palestrante: a valorização do turnaround, dos líderes transformadores e de um conjunto de atitudes que considero fundamentais para o sucesso, tais como: integração, inovação, superação, determinação e autogestão.

Recentemente, em conjunto com o jornalista esportivo e meu amigo Maurício Barros, publiquei o livro “Descubra o Craque que Há em Você”, salientando exemplos de craques do universo esportivo que podem contribuir muito para a nossa vida profissional. E o Super Bowl 2021 foi pródigo em ilustrar várias dessas características.

Entretanto, um aspecto merece reflexão especial. O fato de Brady, aos 43 anos, ser considerado um aposentável no esporte, me faz recordar a prática do que pode ser chamado de “idadismo”, uma herança da era industrial e do tangível, que definiu limites de idade para o exercício da vida profissional ativa.

Sempre defendi a tese de que “sabedoria não se aposenta”. Acredito que a maioria das empresas tem perdido grande parte do seu capital humano, em muitos casos pessoas que estão no auge de suas carreiras, apenas para cumprir uma regra concebida quando a força física era um importante fator de competência profissional. A era dos serviços e do intangível demanda muito mais habilidades, experiência e inteligência na comparação com competências facilmente substituíveis pela mecanização e robótica em inúmeras atividades.

Também sempre advoguei pela busca da convergência entre experiência e impetuosidade, bem como entre ousadia e maturidade. Nessa linha cabe, ainda, a relação entre inovação e bom senso. O alinhamento entre esses fatores deve ser bem conduzido tanto nas empresas tradicionais e consolidadas, com necessidade de oxigênio novo para continuarem competitivas, quanto no caso das inúmeras startups nas quais invisto ou acompanho, que precisam de perspectivas mais experientes para mitigarem riscos e serem mais eficazes.

A partida decisiva do Super Bowl consolidou muitas das ideias que tento disseminar na busca pelo maior equilíbrio, para extrair o melhor da “curva dos máximos”, mesclando profissionais mais maduros e experientes com os mais jovens e impetuosos. Nessa solução híbrida reside a chave do sucesso para a gestão do capital humano que nossas empresas tanto necessitam.

O exemplo de Tom Brady serve de lição para muitas empresas. O Buccaneers acreditou na experiência e no talento do jogador para conquistar uma grande vitória.

Já o legendário atleta comprovou seu valor dentro e fora de campo, ampliando recordes de um legado difícil de ser batido. O esporte vai muito além do envolvimento emocional criado pela geração de histórias memoráveis, pois revela um conjunto de aprendizados fundamentais para a vida pessoal e para o mundo corporativo. Absorver esses ensinamentos pode ser determinante no caminho para se transformar e ser o agente da transformação que sua empresa necessita!

*   César Souza é cofundador e presidente do Grupo Empreenda, consultor e palestrante em Estratégia, Liderança, Clientividade e Inovação. Autor de “Seja o Líder que o Momento Exige” é também coautor do recém-lançado “Descubra o Craque que Há em Você” (Buzz,2020)