Uma erupção límnica, o cenário mais catastrófico após o despertar do vulcão Nyiragongo na República Democrática do Congo (RDC), ocorre quando as águas profundas de um lago rico em gás sobem à superfície, liberando grandes quantidades de CO2 e sufocando as populações ao redor.

Este tipo de catástrofe incomum ocorreu em Camarões em 1986: o lago Nyos matou quase 1.800 habitantes e exterminou milhares de cabeças de gado.

Entre as hipóteses consideradas pelos especialistas após a erupção do vulcão Nyiragongo, esta é de longe a pior.

Mas a priori “não é a mais provável”, segundo o vulcanologista Patrick Allard, entrevistado pela AFP após uma reunião do Observatório de Vulcanologia de Goma, no leste da RDC.

Atualmente, os rios de lava do vulcão cessaram, mas o magma que os causou está se expandindo no subsolo, a uma profundidade estimada entre 0 e 4 km abaixo do nível do mar.

– Gases armazenados –

Centenas de milhões de metros cúbicos de magma já passaram por baixo de Goma e seguem em direção ao lago Kivu, ao sul da cidade, sem que seja possível prever o que acontecerá, segundo Allard, especialista do Instituto de Física de Paris.

Uma erupção límnica ocorreria se o magma atingisse o fundo do lago.

Trata-se de um lago “tectônico” que contém em suas profundezas gigantescas quantidades de gás, especificamente dióxido de carbono (C02) e metano. Uma composição característica do Vale Rift, uma superfície geológica da África Oriental composta de falhas vulcânicas ricas em gás.

As profundezas do lago Kivu são alimentadas por esses “vazamentos de gás” procedentes do manto da Terra. Por serem mais densas, ficam no fundo, mas quando o lago se desestabiliza, suas camadas podem se inverter abruptamente.

Segundo Allard, nesse cenário, o magma pode aquecer a água, fazendo com que suba em forma de bolhas, o que clarearia as camadas profundas.

Assim o lago ficaria “invertido”, deixando escapar sua imensa reserva de CO2, um gás mais pesado que o ar que não evapora e que se torna mortal com uma concentração de mais de 15% na atmosfera.

– Asfixia fulminante –

“Se respirar, o coração para de bater. É inodoro, incolor, mas o sufocamento é fulminante”, explica o pesquisador.

Em Camarões, os habitantes morreram durante o sono, acrescenta.

Em outro episódio, 149 pessoas foram encontradas mortas “umas em cima das outras” após terem passado por uma nuvem de CO2 que saía do solo, fenômeno denominado “erupção freática”, semelhante à límnica e igualmente perigosa.

Mas até agora nunca houve uma erupção deste tipo “à escala de uma cidade como Goma”, segundo o cientista.

“Não acredito que seus habitantes estejam expostos a um risco de liberação maciça de gás. Estou inclinado para a hipótese de uma erupção localizada, que, ainda assim, é perigosa”.

A catástrofe pode ser evitada? É difícil saber, mas existem técnicas de vigilância (captores no lago, sismógrafos para rastrear o magma…) para decidir uma evacuação, se necessário.

O perigo também dependerá da direção da nuvem tóxica. Para se proteger, uma máscara de oxigênio pode funcionar.