Após quase dois anos de uma obra ainda não inaugurada e oficialmente entregue, o novo Vale do Anhangabaú se tornou um ponto de encontro informal dos praticantes de esportes sobre rodas de São Paulo e cidades do entorno. Os maiores adeptos são ligados aos patins e ao skate, mas há quem vá também de bicicleta, patinete e até carrinho de rolimã.

É o caso da gerente de loja Ketty dos Santos, de 36 anos. Moradora do Itaim Paulista, no extremo leste paulistano, costuma marcar passeios no local cerca de uma vez por semana com outros patinadores amadores da cidade e de municípios vizinhos, como Guarulhos. “O Vale do Anhangabaú acabou se tornando um ponto de encontro, um marco para todos os patinadores”, comenta. Segundo ela, o principal motivo é o piso liso que substituiu a pedra portuguesa. “Anteriormente, era inviável, o piso não era bom para os patins.”

O professor de educação física Marco Antonio de Almeida, de 42 anos, o Macoy, costuma ir ao vale com a mulher, Tatiana, e os filhos Davi, de 7, e Arthur, de 11 anos, duas vezes por mês, hábito que adotou após a obra. Os adultos vão de patins, enquanto as crianças levam também skate e patinete.

Antes da obra, comenta, só passava pela região por cima dos viadutos. “Uma das coisas que me fez frequentar mais também foi o fechamento dos parques (por causa da pandemia). Mesmo com a marquise do Ibirapuera fechada, a gente andava na ciclovia e em outros parques da zona leste”, explica. Entre os novos frequentadores, também estão atletas, como o patinador Erick Mello, de 25 anos. Ele se mudou para São Paulo neste mês, mas já frequentava o vale desde o fim do ano passado, mesmo estando no Rio. “No Instagram, ficou muito conhecido no mundo dos patins”, conta. “Virou o ponto de encontro fixo dos patinadores.”

A procura é tanto pela pista mais livre quanto por obstáculos, como escadas, corrimãos, bancos e ladeiras. Outro motivo que contribui para a popularização é que o centro oferece acesso fácil e opções de restaurantes e lojas com preços acessíveis.

Críticas

Embora o resultado seja elogiado por parte dos frequentadores, outros continuam críticos à obra, pelo custo (cerca de R$ 105 milhões) e pelas interferências no projeto anterior, da arquiteta paisagista Rosa Kliass e do urbanista Jorge Wilheim. Entre eles está o skatista e produtor cultural Murilo Romão, de 32 anos, que chegou a fazer um abaixo-assinado para que a prática do skate não fosse excluída do novo projeto. “Já era um lugar muito tradicional de skate, um ponto de encontro”, comenta. “Não concordo com essa reforma, precisava de uma, mas foi radical e com muito dinheiro gasto.”

Diferentemente dos patins, o skate tinha adeptos que frequentavam o vale antes da obra. O resultado do movimento foi uma intervenção feita a partir do granito rosa das arquibancadas antes utilizadas por esportistas no local, dando origem a um espaço para manobras. “Para a gente, é um memorial, uma homenagem, ao que foi Anhangabaú para o skate.”

A reforma tocada pela atual gestão é a conclusão de um projeto do escritório de arquitetura do dinamarquês Jan Gehl, contratado pela gestão Fernando Haddad (PT), em 2016. Segundo a Prefeitura, quando pronto – e quando superada a pandemia – o local deve receber até 10 mil pessoas por dia.

Procurada pelo Estadão em março para falar sobre prazos, a Prefeitura afirmou que as obras da reforma terminaram em 30 de outubro. “Os prazos do contrato foram prorrogados apenas para a continuação da operação assistida, realizada pelo consórcio responsável pelos trabalhos, que visa a corrigir eventuais desconformidades na obra, para que, na entrega definitiva, todos os novos equipamentos, entre eles as fontes de água, funcionem perfeitamente”, disse à época.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.