Ler os posts que se seguem às diversas matérias sobre a decisão do Nubank de convidar a cantora Anitta para seu Conselho de Administração é motivo de vergonha alheia. Fica ainda pior quando se percebe que a maioria dos comentários são feitos por homens, brancos e que não tem histórico algum em seus currículos postados no LinkedIn que indique que saibam como os Conselhos de Administração funcionam. Mas, não são os únicos. Representantes de grupos minorizados também aparecem por lá. E fazem isso tudo em uma plataforma largamente usada por recrutadores, profissionais de RH e executivos para selecionar e conhecer novos talentos para suas empresas.

Não se iluda. Nessa história, enquanto a Anitta e o Nubank só ganham, as dezenas de pessoas ávidas por opinarem em assuntos sobre os quais poucos conhecem são as únicas que perderão. Os comentários, quando melhores, são superficiais. Mas, vai ficando pior e pior: alguns apelam para o machismo, outros para uma discussão que nada tem de democrática e outras repletas de palavras que jamais seriam ditas se o autor estivesse em uma entrevista de emprego. Esquecem que estão ou podem estar. Afinal, hoje é fácil fazer uma pesquisa nas atividades do futuro candidato nas redes sociais, e diante do que for encontrado  eliminá-lo na pré-seleção ou ainda confrontá-lo com a impressão de seus comentários durante alguma das etapas da seleção.

Vale lembrar que estamos em uma nova realidade em que as marcas contratantes precisam ficar mais abertas à diversidade de gênero, raça e ideias. Quem está demandando essa mudança são as instituições financeiras e os consumidores, grupos essenciais para que a marca sobreviva no longo prazo. Então, não se iluda parte dois: as empresas vão obedecer. Além disso, ao trazer a Anitta, o Nubank segue uma máxima dos negócios atuais que prega que é da diversidade que nasce a inovação. A Anitta traz para a instituição o conhecimento de um público que o banco quer conquistar e sobre o qual seus acionistas e executivos pouco sabem sobre a vida ou realidade. Já a Anitta vai se empoderando como executiva para um dia, como já anunciado por ela, parar de cantar e seguir fazendo dinheiro. E muito!

No fim da história, o banco e a cantora fortalecem suas respectivas imagens perante àqueles que lhes interessam, enquanto vários profissionais acabam de dar uma aula de anti-marketing pessoal. E em foro público.