17/03/2022 - 0:26
Dois anos depois do início da pandemia, quando as restrições estão de novo próximas de serem aliviadas, e que alguns especialistas admitem que o fim da pandemia pode estar próximo, o responsável avisa: “não ache que tudo volta ao normal com o fim da pandemia”.
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“As consequências da pandemia não terminam quando a OMS (Organização Mundial de Saúde) declarar o fim da pandemia”, afirma o profissional, acrescentando que depois virão os “lutos não resolvidos”. “Estivemos numa crise muito significativa e as energias vão se esgotando. A capacidade de adaptação não é ilimitada. Foi muito tempo vivendo em incerteza”.
Tiago Pereira, em entrevista ao jornal Lusa, salienta que neste processo de sequelas psicológicas relacionadas com a pandemia as mulheres são um dos grupos mais vulneráveis, porque são mais expostas a fatores de risco. Além dos jovens, pois muitos deles viram interrompido o percurso natural de viver com os pais e depois se tornarem autônomos. Engrossando hoje os números da geração “nem-nem”, nem estudam nem trabalham.
O responsável insiste na necessidade de não se pensar que com o fim da pandemia “será tudo um mar de rosas” nem que todos os problemas se resolvem. “Terminando a pandemia se mantém algum tipo de sofrimento” e esse “fim” tem de ser muito bem explicado, porque “o pior que pode acontecer é dizer que acabou tudo sem uma certeza científica disso”, alerta o responsável, dizendo que já com a vacinação se criou a ilusão de que tudo terminaria, o que não aconteceu.
Ainda assim “fomos capazes de resistir durante dois anos de pandemia, estamos sendo desafiados na capacidade de nos adaptar e temos de estar preparados para alterações”, diz Tiago Pereira.
Ana Hilário, socióloga, pesquisadora auxiliar no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, integra um projeto de âmbito europeu, que começou antes do surgimento do novo coronavírus, sobre a hesitação perante a vacina, seja o adiamento seja a recusa. Além de Portugal fazem parte a Finlândia, Bélgica, Polônia, República Checa, Itália e Reino Unido.
“A Comissão Europeia já tinha (antes da covid-19) esta preocupação com a recusa da vacinação”, pelo que surge a proposta de um projeto para tentar compreender melhor o processo, diz a pesquisadora. E acrescenta: “o que sabemos é que Portugal já tem uma taxa de cobertura vacinal de cerca de 90%, com imunidade de grupo para várias doenças. E sucedeu o mesmo com a covid-19”.
Ana Hilário salienta que para estes resultados, e para a confiança nas instituições, há razões históricas. “As gerações mais velhas se lembram de como era antes de se iniciar a vacinação. Recordame de doenças como sarampo, como a tuberculose, e percebem as consequências, que incluem a morte”, salienta Ana Hilário.