24/03/2022 - 20:52
Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) – O presidente Jair Bolsonaro admitiu nesta quinta-feira que a ex-funcionária de seu gabinete quando era deputado federal nunca esteve presente em Brasília, mas argumentou que ato da Mesa Diretora da Câmara permite que sejam contratados funcionários no Estado de representação do parlamentar.
Bolsonaro acrescentou ainda que a prática é comum entre parlamentares e desafiou o Ministério Público Federal (MPF) a investigar deputados e senadores.
“Ela nunca esteve mesmo, pelo que tenho conhecimento, ela nunca esteve em Brasília, a Wal”, reconheceu.
“Estão criando uma narrativa mentirosa para dizer que eu cometi um crime aí com a senhora Wal”, disse Bolsonaro na tradicional live que costuma fazer às quinta-feiras nas redes sociais.
“Por que isso? Se todos os meus servidores –metade– estavam no Rio de Janeiro? Agora, também abra processo contra toda a Câmara, todo o Senado. Eu acho que exceto o pessoal aqui de Brasília, acho, exceto o pessoal do DF, o resto dificilmente alguém não tem servidor no Estado”, disse.
O MPF propôs à Justiça Federal uma ação de improbidade administrativa contra o presidente e a ex-secretária parlamentar da Câmara dos Deputados Walderice Santos da Conceição, a “Wal do açaí”, apontando enriquecimento ilícito e prejuízos ao erário público.
A ação aborda investigação sobre a funcionária, que ocupou, por indicação de Bolsonaro –à época, deputado federal– , cargo de secretária parlamentar em seu gabinete de 2003 a 2018, sem, no entanto, nunca ter pisado em Brasília ou exercido qualquer função relacionada ao posto.
O ato citado pelo presidente nesta quinta-feira foi editado em 2010, mas de fato estabelece que “os ocupantes dos cargos em comissão de secretariado parlamentar terão exercício em Brasília, nos gabinetes parlamentares, ou no Estado de representação do Parlamentar, e reger-se-ão pelas normas aplicáveis aos demais servidores da Câmara dos Deputados”.
O problema é que Wal não exercia, segundo o MPF, funções compatíveis com o cargo que ocupou.
O Ministério Público aponta que Walderice e seu companheiro, Edenilson Nogueira Garcia, prestavam na verdade serviços particulares para Bolsonaro, principalmente cuidados com casa e cachorros do então deputado na Vila Histórica de Mambucaba, além de cuidar de uma loja de açaí na região. Wal do açaí, como ficou conhecida, só foi exonerada do cargo no gabinete após a divulgação de denúncias na imprensa sobre o caso em 2018.