Por Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) – O ex-governador de São Paulo João Doria anunciou nesta segunda-feira a desistência da sua pré-candidatura à Presidência da República pelo PSDB na eleição de outubro, e a cúpula da legenda indicou que deve apoiar a senadora Simone Tebet (MDB-MS) como nome ao Palácio do Planalto da chamada terceira via.

Doria fez o anúncio visivelmente emocionado e lendo um discurso, o que não é comum em sua trajetória pública de ex-prefeito e ex-governador.

“Hoje, neste 23 de maio, serenamente, entendo que não sou a escolha da cúpula do PSDB. Aceito esta realidade com a cabeça erguida. Sou um homem que respeita o bom senso, o diálogo e o equilíbrio”, disse.

“Me retiro da disputa com o coração ferido, mas com a alma leve. Com a sensação inequívoca do dever cumprido e missão bem realizada. Com boa gestão e sem corrupção”, acrescentou.

Mesmo tendo vencido em novembro passado as prévias no PSDB contra o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite, Doria não decolou nas pesquisas de intenção de voto ao Palácio do Planalto e passou a ser alvo de forte pressão interna e externa, de aliados da terceira via, para abrir mão da candidatura presidencial.

Uma das principais preocupações de lideranças do partido é que a legenda, que já governou o país sob Fernando Henrique Cardoso, pudesse se enfraquecer ainda mais nas próximas eleições com a insistência do tucano em se manter na disputa.

Presente ao anúncio, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, agradeceu ao gesto e deu sinais de que a legenda –juntamente com MDB e Cidadania– irão trabalhar pela consolidação da candidatura de Tebet, embora não tenham fixado uma data para isso.

“Vamos dar um passo à frente agora. O nome de Simone é o nome posto, mas precisamos agora construir um projeto de Brasil. É preciso que agora haja o compromisso de receber essa construção de projeto de governo, discutir os palanques regionais”, disse.

“O caminho aponta para essa aliança feita com MDB, vamos consolidar isso. O PSDB está firme nessa coligação. O nome de Simone já fazia parte do bloco, a responsabilidade de Simone agora aumenta”, emendou, acrescentando ainda que é preciso debater o nome para vice-presidência do grupo.

Em um aceno a Doria, Bruno Araújo disse que quer que ele tenha um papel ou protagonismo do tamanho do gesto que teve, e que ele será o “que quiser”. No mês passado, o presidente do PSDB havia sido afastado da coordenação da pré-campanha de Doria após desentendimentos.

Pouco após a decisão tucana, a senadora Simone Tebet divulgou uma nota em que disse que Doria nunca foi adversário e sempre foi um aliado e que vai conversar e receber as sugestões dele para o programa de governo que desenvolve.

“Vamos trabalhar para unir todo o centro democrático. Gostaria muito de ter o PSDB e o Cidadania junto conosco. Vamos aguardar a decisão das direções partidárias”, disse ela.

A despeito da fala de Simone e dos acenos do PSDB, a senadora do MDB também patina para viabilizar e confirmar seu nome na própria legenda na corrida presidencial em razão do modesto resultado em pesquisa de intenções de voto.

No MDB, há lideranças que defendem um apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros ao presidente Jair Bolsonaro.

(Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu)

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