21/06/2022 - 10:42
O Comitê de Política Monetária (Copom) afirmou, na ata de sua última reunião, que os dados recentes de inflação no País vieram “acima do esperado”, com surpresa em itens mais voláteis e também nos ligados à inflação subjacente. Nesse contexto, o Copom destacou que a inflação subjacente acelerou, mantendo-se acima do intervalo compatível com a meta.
“Os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária seguem com inflação elevada e as diversas medidas de inflação subjacente aceleraram, mantendo-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação”, disse, na ata, divulgada na manhã desta terça-feira, 21.
O colegiado ainda avaliou que a inflação ao consumidor segue elevada, disseminada entre vários componentes e mais persistente do que o esperado. “A inflação de serviços e de bens industriais se mantém alta, e os recentes choques continuam levando a um forte aumento nos componentes ligados a alimentos e combustíveis”, ressaltou.
Na semana passada, o colegiado elevou a Selic, taxa básica de juros, em 0,50 ponto porcentual, de 12,75% para 13,25%.
Cenário inflacionário global pressionado
O Copom do Banco Central avaliou na ata que o cenário inflacionário global segue marcado por pressões tanto de demanda por bens persistentemente alta, como de choques de oferta ligados à guerra na Ucrânia e à política chinesa de combate à covid-19.
“O Comitê avalia ainda que as recentes políticas que restringem o comércio de produtos agrícolas em países produtores de commodities, concomitante aos efeitos da guerra na Ucrânia, trazem um risco adicional para as pressões inflacionárias globais”, escreveram os membros do colegiado.
De acordo com o documento, esses desenvolvimentos podem ter consequências de longo prazo e se traduzir em pressões inflacionárias mais prolongadas. Na reunião da semana passada, o Comitê também discutiu os crescentes riscos em torno de uma desaceleração global mais acentuada em ambiente de inflação significativamente pressionada. “O Comitê já antecipa uma desaceleração da atividade global nos próximos trimestres, em função das tensões geopolíticas e do aperto na política monetária e nas condições financeiras em curso em diversas economias centrais”, adiantou.
O colegiado avaliou que a sincronia global no processo de retirada de estímulos introduz riscos adicionais aos mercados e pode potencializar seu impacto no cenário prospectivo. “Nesse contexto de desaceleração global, o Comitê avalia que há possibilidade de reversão, ainda que parcial, do aumento dos preços de commodities internacionais em moeda local observado nos últimos trimestres”, ponderou.
Ambiente deteriorado
Ainda sobre o cenário internacional, a ata salientou que o ambiente seguiu se deteriorando, marcado por revisões negativas para o crescimento global prospectivo em um ambiente de fortes e persistentes pressões inflacionárias. “Essas pressões, decorrentes da recuperação global após a pandemia, foram exacerbadas pelo avanço nos preços de commodities este ano e, mais recentemente, pela onda da Covid-19 na China, prolongando ainda mais o processo de normalização do suprimento de insumos industriais”, pontuou.
O colegiado citou que a reorganização das cadeias de produção globais, já impulsionada pela guerra na Ucrânia, deve se intensificar, com a busca por uma maior regionalização na cadeia de suprimentos. “Na visão do Comitê, esses desenvolvimentos podem ter consequências de longo prazo e se traduzir em pressões inflacionárias mais prolongadas na produção global de bens”, destacou.
Além disso, os membros do Copom mencionaram que o crescimento de grandes economias tem sido revisado para baixo, tanto para este quanto para o próximo ano, em função da expectativa de reversão dos estímulos implementados durante o longo período da pandemia, em particular os de política monetária. “Notou-se, ademais, revisões negativas de crescimento para a China, em parte refletindo a política de Zero Covid adotada por esse país.”
Ainda sobre o ambiente externo, os membros do colegiado comentaram que os bancos centrais de países desenvolvidos e emergentes têm adotado uma postura mais contracionista em reação ao avanço da inflação, ainda que, em parte dessas economias, as taxas de juros correntes sigam em campo avaliado como expansionista.
“A reprecificação da política monetária nos países avançados, o aumento da aversão a risco e a mudança da perspectiva de crescimento econômico têm impactado as condições financeiras tanto de países avançados quanto de emergentes”, citou a ata.
Por fim, o Comitê discutiu também os crescentes riscos em torno de uma desaceleração global em ambiente de inflação significativamente pressionada.