20/09/2022 - 12:30
Os campos de algodão de Sutton Page estão devastados, quase não há mais nada para colher. O agricultor do Texas conseguiu salvar um quinto de sua safra, mas o restante foi perdido, devido à severa seca que vem afetando toda região.
Este ano, sua colheita “não é boa”, diz ele, mas, na realidade, a seca no norte do Texas acabou sendo um desastre. A maioria dos vizinhos de Page sequer se preocupou em colher o algodão.
O Texas produz quase metade do algodão dos Estados Unidos, o terceiro maior fornecedor do mundo, atrás apenas da Índia e da China.
Este ano, a produção nacional atingirá seu nível mais baixo desde 2015, com queda de 21% ano a ano, enquanto o Texas sofrerá uma queda de 58%, estima o Departamento americano da Agricultura.
No noroeste do estado, onde o algodão é a base da economia local e a água é escassa, a safra de 2022 “pode ser uma das piores em 30 anos”, diz Darren Hudson, professor de economia agrícola da Universidade Tecnológica do Texas.
Isso terá consequências em cascata para a indústria têxtil global. Em uma economia que já sofre com a pandemia, Hudson calculou o provável impacto econômico na região em US$ 2 bilhões.
Landon Orman, de 30 anos, trabalha em uma fazenda de algodão de 800 hectares perto de Abilene, três horas a oeste de Dallas. Seu algodão não irrigado nem brotou, enquanto sua plantação parcialmente irrigada cresceu, mas seu rendimento se reduzirá pela metade.
No total, prevê que a produção caia 85% em relação a um ano normal. Como tantos outros, ele tem seguro para suas colheitas, então, “economicamente”, não passa por um momento tão ruim. Como agricultor, porém, diz que é “muito chato” não poder “cultivar coisas às vezes”.
– Deprimente –
Em Lubbock, o polo algodoeiro da região, as chuvas nos últimos 12 meses foram cerca de metade de seu volume normal, e o pouco que caiu chegou tarde demais para salvar a safra.
“A partir de janeiro e até o mês de maio, literalmente não choveu”, lembra Sutton Page. E, a partir de maio, acrescentou, “começamos a ter dias de 37°C e ventos de quase 50 quilômetros por hora, e tudo secou”.
Page teve de arar uma segunda vez 80% de sua colheita para evitar que a terra secasse. Das poucas plantas pequenas que finalmente cresceram, talvez nem valha a pena ser colhê-las.
“É um pouco deprimente, porque você trabalha muito o ano todo, tem a terra pronta e adubada, mas sua lavoura não cresce”, desabafa.
Os produtores de algodão das planícies do Texas sabem que sempre pode haver anos ruins, mas a seca de 2022 pode ser a pior. E alguns estão preocupados com o que pode vir.
A região “observa condições piores do que na mesma época do ano passado”, diz Curtis Riganti, climatologista especializado em seca.
Os agricultores no Texas, um estado onde abunda o ceticismo sobre as mudanças climáticas, preferem ver nisso ciclos imprevisíveis repetidos em vez dos efeitos do aquecimento global.
Enquanto esperam por respostas, todos fazem tudo ao seu alcance para, pelo menos, manter a umidade em seu solo.