Por Ricardo Brito e Maria Carolina Marcello

BRASÍLIA (Reuters) – A campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) à reeleição deflagrou nesta sexta-feira uma operação para apagar o fogo amigo causado por declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a possibilidade de desindexação do reajuste do salário mínimo da inflação.

Explorado pela oposição nas redes sociais, o tema chegou a figurar no topo dos trend topics do Twitter com a hashtag #bolsonaronaomexenomeusalario, e mobilizou o candidato à reeleição, aliados do presidente e a campanha a dispararem um vídeo de pouco mais de um minuto em que Bolsonaro acusa a esquerda de espalhar informações falsas.

“Consertamos a economia do Brasil. Estamos arrecadando muito. Assim sendo, a partir do ano que vem, a nossa garantia de darmos a todos os aposentados e pensionistas um reajuste acima da inflação. A mesma coisa no tocante aos servidores públicos. Conceder no ano que vem um reajuste acima da inflação. E o valor do salário mínimo, como fica? Também será dado um reajuste acima da inflação. Todos vocês não acreditem nessas mentiras da esquerda que nunca nada fizeram por ninguém”, disse.

Na campanha de Bolsonaro, segundo duas fontes, a intenção de o presidente gravar e distribuir o vídeo é para tentar conter eventuais danos eleitorais a menos de dez dias para o segundo turno.

Uma das fontes admitiu que o assunto –que foi revelado por reportagem da Folha de S.Paulo– pegou a campanha de surpresa e por essa razão se optou por Bolsonaro gravar o vídeo. A fonte disse ainda que um reajuste dos aposentados acima da inflação deverá estar entre 22 metas que Bolsonaro deverá anunciar neste sábado em evento de campanha em São Paulo, maior colégio eleitoral do país.

Outra fonte, entretanto, afirmou que a gravação não tem por objetivo reduzir eventuais danos pelo episódio, que a oposição está “fazendo barulho” e que a decisão de se gravar o vídeo é justamente para “matar” a história o quanto antes.

O assunto do reajuste das aposentadorias é delicado porque pode afetar diretamente a parte da população mais desfavorecida, que tende, em sua maioria, a votar no adversário de Bolsonaro no segundo turno do próximo dia 30, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O candidato à reeleição teve 6,2 milhões de votos a menos que Lula no primeiro turno e trabalha para tentar tirar essa diferença até o segundo turno.

Na véspera, o ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu a desindexação de despesas do Orçamento, mas disse que o governo não mudará regras de reajuste do salário mínimo e de aposentadorias “no meio do jogo” e que a correção desses gastos continuará a ser feita com base na inflação.

“Você está com o jogo correndo, você não vai mudar de repente a regra agora. A aposentadoria e o salário mínimo vão subir de acordo com a inflação  porque é o que está valendo”, afirmou Guedes a jornalistas após evento no Rio.

Questionado sobre notícia veiculada pela Folha de que o plano do governo seria indexar salário mínimo e aposentadorias à expectativa de inflação futura –e não à inflação do ano anterior, como ocorre atualmente–, Guedes disse que não haverá mudanças que prejudiquem os mais frágeis.

“A gente não vai no meio do jogo mudar a regra para atrapalhar alguém. É garantido que vai ser pelo menos a inflação passada”, ressaltou.

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