Na reta final para concluir sua recuperação judicial, que se arrasta desde 2018, a rede de livrarias Saraiva vai tirar uma carta há muito tempo guardada na manga com o objetivo de retomar confiança do mercado. Em um projeto que vem sendo gestado nos últimos meses, a companhia está na reta final para relançar a marca Siciliano, que já foi uma das maiores livrarias do Brasil, adquirida pela Saraiva em 2008.

A decisão de reviver a Siciliano tem a ideia de mostrar que a companhia segue no jogo, sendo capaz de se reinventar e de ter uma subsidiária saudável sob o seu guarda-chuva.

Para levar o plano a cabo, no entanto, será necessário buscar um investidor para a empreitada, uma vez que a Saraiva hoje não tem fôlego financeiro. “A ideia é preservar a independência da nova empresa, já que a Saraiva possui passivos da recuperação judicial. Ou seja: não haverá contaminação”, explica o presidente da Saraiva, Marcos Guedes.

A nova Siciliano deverá funcionar no sistema de franquias. E o plano de negócios está sendo desenhado pelo especialista em franchising Marcelo Cherto. “Serão 8 lojas no primeiro ano, 18 no segundo e 30 no terceiro. A meta é alcançar 80 lojas em cinco anos”, afirma Guedes, que está aguardando a conclusão do plano de viabilidade para apresentar a ideia a investidores.

Das lojas previstas, a projeção é que 50% sejam novas e a outra parte venha de livrarias independentes que vão migrar para o nome Siciliano. A marca, incluindo seu design, não será a mesma da antiga rede de livrarias. Vai ganhar cara nova e terá semelhanças com o logo da Saraiva.

E a empresa não tem a ambição de entrar na briga por regiões mais concorridas, como a cidade de São Paulo, mas sim de atuar nas chamadas áreas secundárias, como o interior. Em seu auge a Saraiva teve mais de cem livrarias, sendo presença certa nos principais shoppings de São Paulo.

Visão

A rede de franquias da Siciliano será, na prática, uma subsidiária não integral da Saraiva. “O crescimento da Saraiva é mais lento, tem um carrego muito grande. Ela será beneficiada com dividendos dessa nova companhia, com diluição de custos administrativos”, afirma o executivo.

Além desses ganhos, Guedes diz que, mesmo não ajudando a “empresa-mãe” diretamente, a Siciliano coloca novamente a Saraiva no ponto de atenção do mercado. Isso significa ter mais escala na compra de livros e poder de barganha com fornecedores.

Além dessa nova estratégia, a Saraiva voltou, após cinco anos de enxugamento, a abrir uma nova unidade no Shopping Aricanduva, em São Paulo. Guedes afirmou que as lojas da Saraiva tendem a ser menores e com mais presença de itens de papelaria.

Especialista no setor editorial, Eduardo Villela diz que a estratégia da Saraiva permitirá crescimento em número de lojas, mas com desembolso a cargo do franqueado. O especialista lembra que o sistema de franquias já é usado pela Nobel – o que prova a possível viabilidade dos planos da Saraiva para a Siciliano.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.