Um ex-atleta do Palmeiras entrou na Justiça após alegar golpe milionário das criptomoedas por parte de um colega. Gustavo Scarpa, que atuou como meio campo no time brasileiro, investiu R$6 milhões em criptomoedas, em uma aplicação indicada por Wiliam Bigode, que joga no Fluminense. “É meu patrimônio quase todo”, desabafou o atleta em meio ao caso que o fez perder R$11 milhões. 

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Conforme adiantou o Fantástico, a promessa era de que Scarpa tivesse cerca de 5% de lucro na aposta no mercado de criptos. Na negociação, um dos donos da empresa Xland Holding Ltda disse que tinha R$2,1 bilhões em pedras de alexandrita, um mineral caro e que muda de cor. 

O que aconteceu?

Gustavo Scarpa investiu mais de R$6 milhões em criptomoedas em 2020 na WLJC Consultoria e Gestão Empresarial, indicada por seu colega, Willian Bigode, atleta do Fluminense e sócio da empresa. Em 2022, o atleta começou a suspeitar de golpe, ao decidir fazer um resgate do investimento. Ele registrou um boletim de ocorrência com a acusação de estelionato.

“Esse caso não tem relação essencial com criptomoedas e sim com pirâmide financeira envolvendo o ativo. Esse tipo de golpe ocorre quando uma pessoa cria um fundo não regulamentado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), capta dinheiro no mercado, promete valores acima de 2% a 4% ao mês, e acaba pegando o dinheiro sem devolver”, explica Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos.

Somente com o avanço das investigações será possível saber com certeza o modus operandi do caso, mas tudo indica que houve uma série de falhas, facilitada por uma relação de confiança entre os envolvidos, conforme avalia Gilberto Braga, do Ibmec RJ.

“Pelo que se sabe, o investimento era feito de forma triangular, sendo o recurso depositado pelos investidores em uma conta de um interposta pessoa jurídica que era intermediária e que faria o repasse para a destinatária final da aplicação do investimento”, explica o economista.

Há ações judiciais em curso movidas pelos jogadores Gustavo Scrapa e Mayke, que também investiu na empresa, acusando Bigode, a empresa WLJC Consultoria e Gestão Empresarial e a empresa Xland Holding. “Os jogadores alegam que fizeram aportes milionários que prometiam realizar investimentos em criptoativos e que em uma data futura pré-estabelecida receberiam o capital mais uma rentabilidade ‘extraordinária’ entre 3,5% e 5% ao mês”, resume Frank Magalhães, do Ibmec BH.

Promessa enganosa

Conforme já adiantado por Lage, uma das características deste tipo de golpe é a promessa de resgastes acima de 2%. “Como as aplicações financeiras, em princípio, foram realizadas em criptoativos, não há como se garantir o capital investido e estes níveis de remuneração ao longo de uma janela de tempo pré determinada [que chegavam a 5%]. Se esta foi a “promessa”, os jogadores, tal como inúmeras outras pessoas comuns e desconhecidas, ‘caem’ todos os dias”, completa.

Como evitar esse tipo de golpe?
Braga orienta que o primeiro passo é desconfiar das promessas de ganhos elevados sem riscos – o que não existe no mercado financeiro. “Saber que, ao investir em criptomoedas, há riscos de qualquer renda variável, como investir na Bolsa de Valores, podendo ganhar ou perder. Por fim, checar quem são os corretores e se são registrados na CVM para operar no Brasil. Na quase totalidade dos golpes, os destinatários do recursos estão no exterior, não sendo sequer alcançados pela legislação e autoridades brasileiras”, alerta o economista.

É possível reaver os valores?

Na maioria das vezes, segundo Braga, os investimentos não são honrados diretamente, até porque as empresas captadoras são falsas e os contratos não tem validade financeira. “Há a questão criminal e possibilidade de se tentar o rastreio e bloqueio dos recursos e dos patrimônios dos envolvidos, pessoas jurídicas e físicas”, explica.

Segundo o UOL, a Justiça de São Paulo determinou o bloqueio das contas da Xland, seus sócios e de uma consultoria ligada a Bigode. O valor bloqueado foi de aproximadamente R$13 milhões.

“Não que seja impossível [reaver o dinheiro], mas quase sempre os investidores ficam no prejuízo. Na maioria dos casos o número de investidores e os volumes financeiros comprometidos em fraudes vão muito além dos recursos disponíveis que se consegue apurar depois de comprovadas as fraudes e os fraudadores”, finaliza Magalhães, que recomenda a via judicial como a melhor para garantir resultados.