26/04/2023 - 11:04
País europeu fechou recentemente suas últimas três usinas nucleares. Mas o tema deverá seguir em debate: o destino final dos resíduos radioativos não foi definido, um processo complicado que pode levar décadas.A geração de energia nuclear é coisa do passado na Alemanha. O país, que chegou a ter até 20 usinas nucleares operando ao mesmo tempo, encerrou as atividades de suas últimas três em 15 de abril.
Para a ministra alemã do Meio Ambiente, Steffi Lemke, do ambientalista Partido Verde, a data marca o início de um novo capítulo: “Acho que agora devemos investir nossos esforços em fazer avançar a energia fotovoltaica, o armazenamento de energia eólica, a economia de energia e a eficiência energética, e parar com esses debates retrógrados”, disse em entrevista recente.
O dia 15 de abril também encerrou uma disputa política de décadas na Alemanha. Diante da situação tensa no mercado de energia devido à guerra da Rússia na Ucrânia, ainda havia quem defendesse a expansão da energia nuclear.
E o lixo nuclear?
Mas o legado nuclear ainda deve ser um tema na Alemanha por um bom tempo, uma vez que os reatores ainda precisam ser desmantelados, e o destino final dos resíduos nucleares radioativos ainda não foi definido.
Como quase todos os países que operaram ou continuam a operar usinas nucleares, a Alemanha ainda não encontrou um local para armazenar com segurança o combustível utilizado.
Atualmente, o lixo nuclear da Alemanha se encontra em armazenamento provisório em locais de usinas desativadas, mas a lei exige que esses resíduos sejam armazenados em depósitos subterrâneos com segurança por vários milênios.
“As instalações de armazenamento provisório são projetadas para durar bastante tempo […] e devem preencher o tempo até que um repositório final esteja disponível”, explica Wolfram König, presidente do Escritório Federal para a Segurança do Descarte de Resíduos Nucleares (Base, na sigla em alemão).
“O que estamos procurando é uma profundidade geológica, uma camada adequada de sal, em granito ou rocha argilosa, que garanta que nenhuma substância radioativa chegue à superfície novamente por um período de tempo indefinidamente longo”, afirma ele à DW.
Onde armazená-lo?
Este é um princípio que a Alemanha compartilha com todos os cerca de 30 países que ainda operam ou já operaram usinas nucleares no passado: o lixo radioativo deve ser descartado no subsolo. Mas onde exatamente?
Por muito tempo, a cidade de Gorleben, no estado da Baixa Saxônia, nordeste da Alemanha, foi o lugar preferido na busca por um depósito subterrâneo de lixo nuclear. Mas o município se tornou palco de protestos ferozes contra a energia nuclear, e os políticos decidiram abandonar esse projeto. Agora, a procura se dá em toda a Alemanha, com mais de 90 possíveis locais em consideração.
“Podemos e devemos supor que o processo de busca na Alemanha, com a construção de um repositório final, levará aproximadamente o mesmo tempo em que usamos a energia nuclear, ou seja, 60 anos”, avalia o presidente do Base.
Enquanto isso, o desmantelamento das cerca de 20 usinas nucleares construídas na Alemanha também deverá levar tempo. Isso, segundo König, é responsabilidade dos operadores dessas usinas, que estimam que o processo pode levar entre 10 e 15 anos.
Uma dor de cabeça mundial
Enquanto os reatores já foram desligados na Itália, Cazaquistão e Lituânia, outros países, incluindo Emirados Árabes Unidos e Belarus, estão construindo novas usinas nucleares. Mas o armazenamento permanente e seguro dos resíduos radioativos é uma questão não resolvida em todos os lugares.
A Finlândia está mais adiantada em seu planejamento. Em entrevista à emissora pública alemã ARD, Vesa Lakaniemi, prefeito da cidade de Eurajoki, no sul da Finlândia, falou sobre a construção de uma instalação de armazenamento final de lixo nuclear em seu município.
“Quem lucra com eletricidade também deve assumir a responsabilidade pelo lixo. E é assim na Finlândia”, disse o prefeito. Os custos estimados de construção do repositório em Eurajoki são de 3,5 bilhões de euros (cerca de R$ 19,5 bilhões).
Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), existem atualmente 422 reatores nucleares em operação no mundo, com idade média de 31 anos.
Mas, apesar de alguns países ainda estarem construindo novas usinas, não há evidências de um “renascimento nuclear”, afirma o mais recente Relatório sobre a situação da indústria nuclear mundial. Em 1996, cerca de 17,5% da energia mundial era produzida em reatores nucleares – em 2021, esse índice era de menos de 10%.