Divulgados pela manhã, os dados mais aguardados da semana – referentes às taxas de inflação nos EUA e no Brasil em dezembro – vieram acima do esperado, resultando em enfraquecimento adicional do apetite por risco nesta penúltima sessão da semana, em início de ano no qual o Ibovespa tem acumulado perdas. Do meio para o fim da tarde, contudo, o ajuste negativo da sessão se limitou a 0,15%, aos 130.648,75 pontos no encerramento. Ainda assim, foi a terceira perda consecutiva para o índice, que mais cedo chegou a operar abaixo dos 130 mil pela primeira vez desde 15 de dezembro, no intradia – na mínima, tocou hoje nos 129.897,76 pontos.

Na semana, o Ibovespa acumula perda de 1,04%, após ter cedido 1,61% na primeira do ano, o que coloca a retração a 2,64% em 2024, até esta quinta-feira. O giro subiu a R$ 20,4 bilhões na sessão, em que o índice da B3, no melhor momento, avançou para 131.307,69, saindo de abertura aos 130.841,09 pontos. Na ponta do Ibovespa, destaque para Prio (+2,59%), Sabesp (+2,45%) e Assaí (+2,14%). No lado oposto, MRV (-11,78%), Casas Bahia (-6,34%) e Petz (-3,21%).

Entre as ações de maior liquidez, Petrobras – ainda que a princípio discretamente, como Banco do Brasil (ON +0,68%) e Itaú (PN +0,18%) – figurou entre os poucos nomes a mostrar ganhos, com ON em alta de 1,02% e PN, de 0,85%, no fechamento. Ao fim, o ajuste nas ações da petrolífera foi compatível à moderação da retomada nos preços da commodity na sessão, com Brent e WTI em alta inferior a 1% no encerramento em Londres e Nova York, respectivamente – mais cedo, subiam cerca de 3%.

A melhora observada no desempenho das ações de Petrobras do meio para o fim da tarde, concomitante à virada de Vale ao positivo (ON +0,53% no fechamento), foi decisiva para moderar as perdas do Ibovespa na sessão, em que nomes do setor de utilities, especialmente Eletrobras (ON +1,05% PNB +1,37%), também foram bem.

A Assembleia Geral Extraordinária (AGE) da Eletrobras para incorporar Furnas, que havia sido suspensa em 29 de dezembro, foi retomada às 15h desta quinta-feira, 11, informaram fontes à jornalista Denise Luna, do Broadcast, no Rio. Os acionistas foram avisados 15 minutos antes da abertura da AGE. De acordo com as fontes, já havia votos suficientes para aprovar a incorporação da subsidiária Furnas ao capital da Eletrobras – aprovação que, ao fim, foi confirmada.

No mercado de petróleo, a sessão foi marcada por retomada de temores geopolíticos no Oriente Médio, que se impuseram à percepção de enfraquecimento da demanda pela commodity. Forças navais iranianas apreenderam hoje um petroleiro no Golfo de Omã que já foi alvo de conflitos com os Estados Unidos, disseram autoridades, agravando as tensões nas rotas marítimas do Oriente Médio. A agência estatal IRNA informou que a marinha iraniana apreendeu o navio, cumprindo ordem judicial.

O navio St. Nikolas, anteriormente chamado de Suez Rajan, esteve envolvido em disputa que durou um ano, depois do Departamento de Justiça dos EUA ter apreendido 1 milhão de barris de petróleo iraniano. Hoje, o navio pertence a uma empresa grega. Horas depois de homens armados terem feito a apreensão, a TV estatal iraniana disse que “o petroleiro infrator Suez Rajan roubou petróleo iraniano e o levou aos americanos.”

Para além do cenário geopolítico, a agenda do dia trouxe leitura sobre a inflação ao consumidor nos Estados Unidos que contribuiu para manter viva a noção de que os juros do Federal Reserve podem não cair tanto quanto tem sido estimado para 2024, e que os cortes podem demorar um pouco mais para começar no ano: uma indefinição que resultou em leves ajustes para os índices de Nova York na sessão, com Dow Jones em alta de 0,04%, Nasdaq, sem variação, e baixa de 0,07% para o S&P 500. No Brasil, a leitura do IPCA em dezembro veio acima do esperado, mas ficou dentro do teto da meta para 2023 – um cumprimento anual que não ocorria desde 2020.

“O IPCA de dezembro veio acima do esperado, e fechou o ano um pouco acima do que se vinha projetando nos últimos meses. Mas se compararmos ao que era esperado lá no início de 2023, com a cabeça que se tinha um ano atrás, o índice fechou dentro da meta, e bem”, diz Bernard Faust, operador de renda variável da One Investimentos. Ele ressalva que a aceleração do IPCA pode resultar em alguma preocupação, e volatilidade para a curva de juros doméstica, no momento em que o CPI nos EUA ainda mostra força, também acima do esperado na leitura de dezembro.

No Brasil, “a divulgação do índice de dezembro traz informações qualitativamente e quantitativamente piores do que o precificado pelo mercado para o IPCA. Ainda se trata de algo preliminar para cravar que o processo desinflacionário começa a apontar mudança de ritmo, mas é inegável que hoje tivemos um primeiro ponto nesse sentido”, observa Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.

“O IPCA-15 prévia da inflação oficial do mês também trouxe informações altistas em itens cuja variação se repete na divulgação do IPCA – ou seja, parte relevante da piora na perspectiva inflacionária já estava incorporada na divulgação de hoje, e o índice se mostrou ainda pior que o esperado”, acrescenta o economista.

Para Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, “apesar de o IPCA de dezembro ser resultado de choques pontuais, serve de advertência de como é desafiadora a tarefa de convergir a inflação para o patamar em torno de 4,0% que projetamos para 2024”. “A reversão do choque favorável de alimentos, a diminuição do efeito da deflação dos bens industriais e a manutenção do mercado de trabalho aquecido são fatores que demandam cautela na condução da política monetária, em especial num ambiente de continuidade de crescimento real de gastos”, acrescenta Costa.